O mundo digital é um espaço de informações para todas as pessoas e um lugar onde podemos encontrar entretenimento, estudos, amigos e facilidades para o nosso dia a dia. Com isso em mente, a questão da acessibilidade e inclusão se torna cada vez mais latente também no mundo digital.
Pessoas com deficiência não devem ter dificuldades ou serem privadas de utilizar produtos digitais pelo simples fato destes não possuírem ferramentas de acessibilidade.
Portanto, é essencial desenvolver interfaces mais acessíveis para promover a inclusão digital e garantir acesso a um maior número de usuários.
Continue a leitura para entender como é possível desenvolver interfaces mais acessíveis.
O que é acessibilidade para a web e produtos digitais?
Em termos gerais, acessibilidade é a disposição para criar oportunidade para que as pessoas consigam transpor barreiras e obstáculos em diversas situações sociais.
Nesse sentido, a acessibilidade para a Web trata de criar meios para que pessoas com deficiência consigam utilizar sites e aplicativos de maneira a usufruir todo o conteúdo disponível.
Os Product Designers são responsáveis por criar designs que tornem suas interfaces e produtos inclusivos para as pessoas com qualquer tipo de deficiência.
Por que a acessibilidade é importante?
A acessibilidade é importante para incluir as pessoas com deficiência no mundo digital e na internet.
Assim como todos, as pessoas com deficiência também são consumidores e usuários de produtos e serviços, sejam físicos ou digitais.
Nesse sentido, garantir a acessibilidade é essencial para expandir a base de usuários de um produto, derrubando barreiras de acesso que dificultam seu acesso a pessoas com deficiência. Logo, no ponto de vista de negócios, garantir a acessibilidade de um produto faz com que sua empresa/ marca ganhe destaque e alcance mais pessoas dentro do mercado.
Além disso, a acessibilidade não ajuda apenas as pessoas com deficiência. Existem diversas situações em que qualquer pessoa precisa de meios acessíveis para ter uma melhor experiência de um produto ou interface.
Pense que você está em uma biblioteca, por exemplo, e não pode assistir a uma video-aula por conta da necessidade do silêncio no ambiente. Nessa circunstância, você precisa também de um meio acessível para conseguir consumir o conteúdo que deseja. No exemplo, uma legenda no vídeo seria essencial.
Dessa forma, pensar em acessibilidade é garantir que ninguém seja excluído da experiência da sua interface, levando em consideração:
- a localização: um lugar silencioso ou barulhento;
- a saúde: sejam pessoas com deficiência ou apenas alguém com o braço quebrado;
- o dispositivo: a responsividade da interface é importante para garantir a experiência em qualquer dispositivo, seja um computador ou um celular.
Dica de Leitura: Entenda Como Usar o Sistema de Grids para Criar Interfaces Responsivas
Mitos sobre acessibilidade
Existem diversos mitos que podem causar uma visão conturbada sobre o que é acessibilidade e qual sua importância.
Na verdade, os mitos podem ser vistos muitas vezes como desculpas para a falta de empatia e para o preconceito.
1) A acessibilidade torna o produto e o design feios
É verdade que para tornar uma interface acessível é necessário seguir uma série de diretrizes que, em determinados casos, podem ser restritivos para o seu design.
No entanto, a tecnologia e a inovação permitem sim criar interfaces que sejam atraentes e acessíveis. Além disso, existem ferramentas de acessibilidade que nem ficam visíveis no design, como os textos alternativos das imagens.
No mais, é importante lembrar que UX Design não é apenas criar produtos e interfaces bonitas. A experiência e usabilidade colocam o usuário no centro das decisões. Dessa forma, a acessibilidade é um meio de garantir a experiência do usuário.
2) O benefício não compensa o investimento de tempo e dinheiro
Levar em consideração a acessibilidade requer um investimento maior de tempo, isso é verdade.
Contudo, pensar nesse aspecto logo no começo do desenvolvimento pode fazer com que haja menos custos no longo prazo.
Eventualmente o seu produto terá que passar por revisões e novas versões. Nesse sentido, considerar a acessibilidade em primeiro lugar fará com que menos tempo seja gasto para incluir essas ferramentas posteriormente.
Além disso, o alcance de novos usuários e o fortalecimento da marca são benefícios que não podem ser subestimados.
3) Não temos usuários com deficiência que interagem com o produto
Este mito é bastante irônico em sua essência.
Se a uma interface não é acessível para pessoas com deficiência, como esperar que elas acessem e interajam com o produto?
As pessoas com deficiência são uma parte dos usuários que utilizam as ferramentas de acessibilidade. Como visto acima, existem diversas situações nas quais qualquer pessoa pode precisar de ferramentas de acessibilidade.
Uma pessoa que quebrou o braço por exemplo, ou até mesmo pessoas mais idosas e que possuem dificuldade com informática e tecnologia.
Pensar na acessibilidade é levar sua interface para usuários em potencial que, em um primeiro momento, estavam impossibilitados de interagir com seu produto.
4) Acessibilidade não é obrigatória
Na verdade, em alguns países é sim.
No Brasil, desde 2015 está em vigor a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa Com Deficiência (Lei 13.146), que torna obrigatória a acessibilidade em sites da internet de empresas públicas ou privadas.
Para mais detalhes acesse a lei no link abaixo:
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa Com Deficiência
Como melhorar a acessibilidade de seus produtos?
Existem diferentes tipos de deficiência que necessitam de diferentes tipos de soluções em termos de acessibilidade.
Basicamente, podemos classificar 3 tipos de deficiência: sensorial, motora e intelectual.
Deficiências sensoriais
As deficiências sensoriais mais comuns são as visuais e as auditivas.
Deficiências visuais
A deficiência visual vai além da cegueira. Pessoas com daltonismo também pode ter dificuldades na interação com o produto.
Nesse sentido, é importante levar em consideração alguns aspectos visuais como:
Para pessoas com qualquer grau de cegueira, é importante inserir ferramentas que consigam ler — em voz alta — o conteúdo da interface.
Para tanto, já existem programas de leitura de tela que descrevem o conteúdo e leem o texto da interface, como o Voiceover para o Mac e o Jaws para o Windows.
Além disso, é importante criar textos alternativos com a descrição das imagens em sua interface. Dessa forma, os programas de leitura conseguem ler a descrição da imagem, tornando possível sua compreensão para as pessoas com deficiência visual.
Outra ferramenta que pode ser utilizada é um programa de lente de aumento.
Essa solução auxilia pessoas com deficiência visual parcial ou, ainda, pessoas idosas com problemas de visão decorrentes da idade.
Dica de Leitura: Como Usar as Cores em Seus Projetos de UX Design?
Deficiências auditivas
No caso de deficientes auditivos, é essencial que a sua interface disponha de ferramentas que consigam tornar áudios em conteúdo escrito.
Nesse sentido, disponibilizar legendas para os conteúdos em vídeo ou sonoros é uma forma de tornar as informações acessíveis.
Lembre-se que tornar videos acessíveis não ajuda somente deficientes auditivos. Mas também usuários que não querem ouvir o áudio ou que estão em um ambiente desfavorável para a audição, como em uma biblioteca ou em um lugar mais barulhento.
Deficiências motoras
Pessoas com limitação de movimentos também devem conseguir acessar e interagir com uma interface ou produto digital.
A acessibilidade nesses casos pode ser concedida através de diversos dispositivos, como teclados adaptados, por exemplo. Há outros dispositivos que conseguem identificar gestos como o piscar dos olhos ou os movimentos de uma mão.
No entanto, uma maneira eficiente de conceder acessibilidade para deficientes motores é permitindo a navegação através do teclado.
Nesse sentido, a interface deve conseguir ser acessada inteiramente através de teclas do teclado como: tab, setas, enter, etc. Portanto, garanta que o time de desenvolvedores mantenha essas teclas funcionais.
Outra alternativa para a acessibilidade é permitir o comando por voz.
Já existem no mercado diversos dispositivos de assistentes virtuais: Siri, Alexa ou o Google Now. Embora esses dispositivos não tenham sido desenvolvidos para a acessibilidade propriamente dita, eles são bastante úteis para melhorar a experiência de pessoas com deficiência motora ou visual.
Deficiências intelectuais
As deficiências intelectuais incluem distúrbios como síndrome de down, dislexia, TDAH, entre outros.
Para melhorar a acessibilidade nesses casos, é importante deixar a interface consistente e padronizada.
Estabelecer regras e padrões ajuda os usuários a entender e a navegar mais facilmente por entre a interface.
Utilize padrões de cores e consistência na funcionalidade dos elementos de UI. Além disso, trabalhe com os padrões de leitura, utilizando títulos e subtítulos nos casos em que o seu conteúdo textual é bastante extenso.
Acessibilidade para mobile
As interfaces deixaram de ser produtos acessíveis apenas em computadores tradicionais — os desktops.
A necessidade de produtos responsivos é uma obrigação para melhorar a experiência do usuário em diversos dispositivos com diferentes tamanhos de tela.
Nesse sentido, a acessibilidade também deve ser considerada nos diversos dispositivos nos quais o seu produto irá funcionar.
Aqui, deve-se levar em consideração não apenas os celulares e tablets mas também:
- Smart TVs;
- Smartwatches;
- Dispositivos integrados em carros e em outros transportes;
- Todos os objetos que fazem parte do conceito IOT — Internet Of Things.
Dessa forma, a acessibilidade nesses dispositivos deve levar em consideração features como:
- Telas sensíveis ao toque e a pressão;
- Possibilidade de ajuste de brilho e contraste da tela;
- Comandos por voz e transcrição de conteúdo visual;
- Responsividade das telas e do conteúdo da interface.
Dica de Leitura: Entenda os 7 Princípios da Gestalt e Como Eles Podem Ajudar Seus Projetos
Guia WCAG
Outra dica importante é seguir as diretrizes existentes para a criação de produtos acessíveis para a web e demais aplicativos.
Nesse sentido, vale a pena entender o Web Content Acessibility Guidelines - WCAG.
Este documento explica como introduzir a acessibilidade em websites, principalmente. No entanto, as suas recomendações podem ser utilizadas em qualquer produto digital, sendo, inclusive, um guia de melhores práticas a ser seguido obrigatoriamente em países como a Inglaterra, por exemplo.
O WCAG trabalha com 4 princípios básicos para o desenvolvimento de produtos mais acessíveis:
- Percepção (Perceivable);
- Operação (Operable);
- Compreensão (Understandable);
- Robustez (Robust).
Estes princípios devem ser levados em consideração para criar interfaces acessíveis para diversos tipos de deficiência, como:
- visuais;
- auditivas;
- mobilidade;
- intelectual.
Vamos observar rapidamente o que cada um dos princípios do WCAG significa.
Percepção
O princípio da Percepção determina que o usuário deve conseguir identificar todas as informações e elementos de UI presentes na interface. Nesse sentido, as informações devem estar acessíveis de diferentes formas para que todos os usuários consigam consumir seu conteúdo.
Dessa forma, é importante que o design da interface contemple:
- Textos Alternativos para a descrição de imagens e informações não-textuais;
- Legendas ou outras alternativas para qualquer conteúdo em vídeo;
- Responsividade ou adaptabilidade para estruturas mais simples, sem que as informações se distorçam;
- Facilidade de distinguir o conteúdo da interface — através da visão ou da audição —, inclusive diferenciar o foreground do background.
Operação
Este princípio de acessibilidade determina que todos os componentes, elementos de UI, conteúdos e a própria navegação da interface sejam operáveis.
Nesse sentido, o design do produto deve se preocupar com:
- Acessibilidade do teclado;
- Tempo hábil para o consumo do conteúdo;
- Não desenvolver conteúdo que possa causar reações físicas como convulsão;
- Todos os usuários devem conseguir navegar pelo conteúdo, encontrar, selecionar elementos e entender a localização deles na interface;
- Todos os usuários devem conseguir, também, realizar preenchimentos e inputs de informação de forma mais acessível.
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Compreensão
A acessibilidade, de acordo com o WCAG, também deve garantir que todos os usuários consigam compreender o conteúdo da interface, bem como entender como navegar por ela.
Desse modo, é importante que a interface seja desenvolvida de forma:
- Legível: todos os usuários devem conseguir ler e entender o conteúdo do produto;
- Previsível: a navegação deve ter lógica e consistência, facilitando o entendimento de seu funcionamento;
- Assistente: a interface deve ajudar a corrigir erros de preenchimento de informações dos usuários.
Robustez
O princípio de Robustez determina que a interface deve ser compatível com diversos tipos de tecnologia, incluindo assistentes de acessibilidade.
Nesse sentido, desenvolver uma interface robusta significa pensar em todas as possíveis integrações que tornarão seu produto mais acessível para todos os usuários.
Critérios de sucesso e níveis de conformidade
Como mencionado, o WCAG é um documento bem completo que é utilizado para analisar as interfaces, no que envolve acessibilidade.
Nesse sentido, o documento também indica quais são os critérios que avaliam cada um dos princípios de acessibilidade. Dessa forma, trata de um manual sobre como desenvolver e como verificar a acessibilidade de uma interface.
Além disso, o documento traça níveis de conformidade. Isso quer dizer que quanto mais critérios o produto atender, melhor será seu nível de conformidade à acessibilidade.
Basicamente, existem 3 níveis de conformidade:
- Mínimo: A;
- Intermediário: AA;
- Maximo: AAA.
Para entender melhor quais são os critérios e para estudar mais a fundo os princípios de acessibilidade, recomendamos que você acesse o site WCAG e leia o documento na íntegra.
Neste artigo, mostramos um pouco sobre a importância da acessibilidade e como é essencial tornar sua interface mais disponível e alcançável para mais usuários.
Lembre-se de sempre levar essas questões em consideração quando estiver desenvolvendo um produto ou interface digital.