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Carreira

Burnout: Como Identificar e Evitar o Estresse Crônico

por
Felipe Guimaraes e Equipe Aela
27/2/2023
4
minutos de leitura
Índice de conteúdos

Você já ouviu falar de burnout? Também conhecido como Síndrome do Esgotamento Profissional, o burnout foi um dos termos mais pesquisados no Google durante a pandemia.  

Essa síndrome, hoje é reconhecida perante à OMS (Organização Mundial da Saúde) como "estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso".

É importante ressaltar que o burnout não é só um problema no trabalho, ele também atrapalha sua vida pessoal. Fique atento aos sinais e aprenda como prevenir esse esgotamento que afeta a vida de tantas pessoas.

O que é Burnout?

A Síndrome de Burnout é a manifestação de um estresse crônico não gerenciado.

Dessa forma, o burnout se caracteriza por um estado de exaustão física, emocional e mental causado por estresse prolongado. Geralmente está atrelado também a um sentimento de desilusão com o trabalho ou a profissão.

Outro fator que vem contribuindo para a Síndrome do Esgotamento Profissional, são as mudanças da nossa relação com o trabalho, que se mistura cada vez mais com a nossa vida pessoal.

Trabalhamos em casa, temos mais relações interpessoais (é inclusive exigido como uma soft skill indispensável em muitas áreas) e estamos constantemente conectados ao trabalho.

Além disso, exercemos funções que exigem muito mais da nossa mente do que do nosso condicionamento físico.

E esse cansaço mental pode ser extremamente prejudicial à sua saúde. Se a sua vida profissional não anda bem, isso irá consequentemente afetar as outras áreas da sua vida.

Inclusive, o psicanalista Christophe Dejours, criador da psicodinâmica do trabalho, afirma que:

A relação com o trabalho está sempre presente, tanto na construção da saúde mental quanto na gênese da doença. Ou, para dizê-lo de outra maneira ainda, a relação com o trabalho nunca é neutra no que se refere à saúde mental.

Por isso, é preciso prestar mais atenção ao ambiente social e organizacional em que os indivíduos trabalham e não apenas no que cada pessoa deve fazer para evitar o burnout.

Como identificar os sintomas dessa síndrome?

Como identificar os sintomas da síndrome de Burnout?

Quando uma pessoa está sob estresse, o corpo responde a isso, e uma dessas respostas é a liberação de hormônios como cortisol e adrenalina, em níveis mais elevados que o normal.

Embora essa resposta seja útil a curto prazo para nos ajudar a enfrentar desafios, se isso acontecer de forma prolongada, pode prejudicar a nossa saúde física e mental.

Inclusive, um dos sintomas mais comuns do burnout é a insônia. Quando pesquisadores na Itália entrevistaram profissionais de saúde com burnout durante a pandemia, eles descobriram que 55% relataram ter dificuldade em pegar no sono, enquanto quase 40% tinham pesadelos.

Isso porque o estresse crônico interfere no sistema neurológico e hormonal que regula o sono. É um ciclo vicioso, porque não dormir deixa o nosso sistema ainda mais fora de sintonia.

Por isso, se você perceber que está tendo problemas para dormir à noite, isso pode ser um sinal de que você está sob estresse - e essa insônia pode acentuar ainda mais o problema.

Fique atento aos sinais mais comuns de Burnout

Os sintomas físicos incluem o cansaço extremo, ter dificuldade para pegar no sono, mudanças no apetite e dores de cabeça, de estômago ou musculares.

Quando se trata de sintomas emocionais, geralmente há uma falta de motivação, dificuldade em tomar decisões, sentimentos de solidão ou insatisfação geral.

Já os sintomas comportamentais podem incluir isolamento social, dificuldade em cumprir responsabilidades e explosões de raiva relacionadas ao trabalho.

Confira uma lista geral dos sintomas relacionados ao estresse crônico:

  1. Exaustão física: fadiga e cansaço crônico, mesmo após uma boa noite de sono;
  2. Distanciamento emocional: sentimento de distância ou entorpecimento emocional em relação ao trabalho, colegas de trabalho e até mesmo atividades que antes traziam alegria;
  3. Eficácia e eficiência reduzidas: diminuição do desempenho no trabalho e dificuldade em concluir tarefas, mesmo aquelas que antes eram rotineiras;
  4. Atitudes negativas em relação ao trabalho: aumento do cinismo e frustração em relação ao trabalho ou local de trabalho;
  5. Sofrimento mental e emocional: sintomas como ansiedade, depressão, irritabilidade e insônia;
  6. Diminuição da sensação de realização: sentir que não está progredindo ou alcançando metas, mesmo trabalhando muito;
  7. Autoestima reduzida: sentir que não é competente ou valorizado no trabalho.

É importante prestar atenção a esses sintomas e procurar ajuda se eles persistirem por um longo período de tempo.

Um profissional de saúde mental pode ajudar a diagnosticar a síndrome e desenvolver um plano de tratamento!

Dica de leitura: Síndrome do Impostor: Somos Mesmo Incapazes?

Qual a causa do Burnout?

A causa exata do Burnout não é bem compreendida, mas acredita-se que seja o resultado de uma combinação de fatores, incluindo estresse relacionado ao trabalho, falta de controle e autonomia e falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

As pessoas que trabalham em situações ou demandas de alto estresse, são particularmente vulneráveis ao burnout - inclusive nas profissões de UX e Product Design, como veremos a seguir.

Se você já estiver experienciando sintomas de estresse ou insônia, é importante procurar ajuda e outra formas de aliviar esses sinais.

Lembre-se que os sintomas tendem a agravar com o tempo se não tratados e o burnout é justamente isso: o estresse não tratado ou não gerenciado.

É melhor prevenir do que remediar

Algumas escolhas de estilo de vida podem tornar o burnout menos provável. O apoio social, por exemplo, pode ajudar. Isso pode incluir conversar com um terapeuta ou encontrar-se com amigos.

Você também pode aproveitar os benefícios de saúde mental ou exercícios oferecidos pelo seu empregador.

E conforme mencionado, e é importante bater nessa tecla, dormir mais e melhor pode ajudar.

Como evitar o Burnout

Como evitar o Burnout

Existem várias estratégias que podem ajudar a evitar o estresse crônico, confira algumas:

  1. Priorize o seu bem-estar: certifique de se envolver em atividades que lhe tragam alegria e o ajudem a relaxar, como exercícios, meditação, leitura ou passar tempo com amigos e familiares;
  2. Mantenha um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal: certifique-se de estabelecer limites entre trabalho e tempo pessoal e evite sobrecarregar-se com o trabalho;
  3. Gerencie o estresse: identifique as fontes de estresse em sua vida e desenvolva estratégias de enfrentamento, como gerenciamento de tempo, atividades de redução de estresse ou busca de apoio de um terapeuta.
  4. Construa uma rede de apoio: Cerque-se de pessoas positivas e solidárias em quem você pode confiar em momentos de estresse;
  5. Faça pausas: tirar folgas regulares do trabalho pode ajudá-lo a recarregar as energias e evitar o esgotamento;
  6. Encontre significado e propósito em seu trabalho: tente se conectar com o propósito maior de seu trabalho e encontre maneiras de torná-lo pessoalmente gratificante;
  7. Busque apoio: se você estiver com sintomas de esgotamento, não hesite em procurar ajuda de um profissional de saúde mental.

Ao incorporar essas estratégias em sua vida, você pode reduzir o risco de burnout e manter seu bem-estar físico, mental e emocional.

Dica de leitura: Redes Sociais: Precisamos Falar Sobre Nossa Saúde Mental

Tratando os sintomas

Tratando os sintomas

Não ignore os sintomas, esperando que a situação se resolva com o passar do tempo. É muito comum ignorarmos nossos próprios problemas, especialmente em nossa cultura, onde somos ensinados a "trabalhar duro" e onde há tanta comparação com o sucesso alheio.

O tratamento para o burnout é feito com psicoterapia, mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos ou ansiolíticos).

Por isso, procure ajuda profissional e peça apoio aos seus familiares e amigos. A melhor solução é abordar a raiz do problema.

O burnout é normalmente reconhecido quando é causado pelo trabalho, mas o estresse crônico pode ter várias causas – problemas financeiros, problemas de relacionamento e sobrecarga com cuidados (filhos ou parentes), entre outras coisas.

Pense nas pedrinhas em seu sapato com as quais você tem que lidar e pense em maneiras de remover algumas delas. Talvez você possa pedir ajuda com a rotina de dormir dos seus filhos ou pedir comida por delivery, para não ter que planejar o jantar também.

A terapia e o aconselhamento podem ser úteis para abordar outras causas relacionadas ao burnout e desenvolver estratégias de enfrentamento.

Com o suporte certo, é possível se recuperar do burnout e recuperar a sensação de equilíbrio e bem-estar.

Controvérsias

De acordo com Dr. Maslach em um artigo do New York Times, apesar da cobertura popular sobre o problema, o tratamento do burnout não deve ser atribuído à responsibiliade do indíviduo.

Segundo ele, isso só pioraria a situação, pois estaríamos colocando a responsabilidade na pessoa esgotada e sugerindo que eles deveriam fazer mais para se sentirem melhor. O que, segundo o médico, não deveria ser tratado dessa forma.

Afinal, a culpa é de quem?

Afinal, a culpa é de quem?

É comum pensarmos no burnout como um problema individual, que deve ser solucionado com práticas de bem-estar.

Isso pode ajudar a reduzir o estresse individual; mas os principais fatores que causam o esgotamento dos colaboradores têm pouco a ver com um indivíduo, e sim, a como eles são gerenciados.

A cultura da empresa, as formas de trabalho e a estrutura organizacional são definidas e controladas pelas organizações, que por sua vez,  impactam no bem-estar dos colaboradores.

É importante entender que coisas como carga de trabalho, colaboradores "favoritos", falta de flexibilidade, pouca comunicação ou comunicação não assertiva, valores incompatíveis, falta de senso de comunidade, falta de autonomia no local de trabalho ou não fornecimento de recursos adequados resultarão, mais cedo ou mais tarde, em situações de estresse crônico.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Gallup, as 5 principais razões para o burnout são:

  1. Tratamento injusto no trabalho;
  2. Carga de trabalho incontrolável;
  3. Falta de clareza do papel;
  4. Falta de comunicação e suporte do gerente ou líder;
  5. Pressão de tempo irracional.

Todos esses cinco fatores são significativamente influenciados pelo comportamento dos líderes e gerentes de uma empresa.

Os gerentes têm a responsabilidade de proteger os colaboradores contra tratamento injusto no local de trabalho, de se comunicarem com clareza e fornecer suporte.

Além disso, os gerentes devem ser defensores e aliados dos membros de sua equipe quando se trata de priorização, gerenciamento de carga de trabalho e estabelecimento de expectativas razoáveis perante os demais.

As organizações devem se responsabilizar

Conforme mencionando, as empresas podem e devem ver as altas taxas de burnout como um sinal de alerta de que as organizações precisam passar por mudanças significativas.

Os empregadores devem adotar uma abordagem sistêmica.

A abordagem sistêmica significa abordar o comportamento tóxico no local de trabalho e redesenhar o trabalho para ser inclusivo, sustentável e apoiar o aprendizado e o crescimento individual, incluindo as habilidades de adaptabilidade do líder e do colaborador.

De acordo com MCkinsey, as organizações que lidam com o comportamento tóxico de forma eficaz implantam um conjunto de práticas de trabalho integradas para enfrentar o problema.

Nessas empresas, o comportamento tóxico é sinalizado, os responsáveis por tais comportamentos mudam ou saem da empresa, e os líderes se conscientizam do impacto que seu comportamento tem sobre os outros.

Se você exerce um papel de liderança, observar seus próprios comportamentos e o que você permite que aconteça em sua própria gestão é um bom ponto de partida.

Como implementar um programa de saúde mental

Como implementar um programa de saúde mental

A EARN e outras entidades que promovem a saúde mental no trabalho, chegaram a 4 elementos fundamentais para programas de saúde mental em organizações:

  1. Conscientização e educação;
  2. Acolhimento e escuta;
  3. Encaminhamento e condução;
  4. Adaptação e conciliação.

Listaremos abaixo, algumas ações que sua organização pode tomar para promover esses 4 elementos:

  • Aplicar avaliações de risco de burnout, de workaholismo e do bem-estar no ambiente de trabalho;
  • Eventos e campanhas de conscientização de saúde mental;
  • Facilitar encontros de escuta;
  • Treinamentos em segurança psicológica e comunicação não-violenta e liderança compassiva;
  • Primeiros socorros de saúde mental;
  • Contratação de serviços de saúde mental para tratamento de indivíduos em crise;
  • Treinamento de pares e gestores para reintegração de um colaborador em afastamento, levando em consideração suas necessidades e restrições;
  • Reavaliação do escopo de trabalho, dimensionando as capacidades atuais de entrega e envolvimento do colaborador em adaptação conciliando com as necessidades da organização.

A relação entre suicídio e síndrome de Burnout

A síndrome de Burnout é reconhecidamente um fator de risco para a depressão e o suicídio.

Em um dos encontros do grupo de apoio Burnoutados Anônimos, uma das participantes mencionou ter tido pensamentos suicidas. Após o relato, foi perguntado aos outros participantes que levantassem a mão caso já tivessem tido tais pensamentos de acabar com a própria vida durante seu burnout. Todos levantaram a mão.

O Brasil é o segundo país com mais casos de burnout no levantamento realizado pela ISMA (International Stress Management Association), estando à frente inclusive dos Estados Unidos.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil também é o país com a maior taxa de pessoas que sofrem com ansiedade e o quinto em casos de depressão.

Dica de leitura: Efeito Dunning-Kruger: A Gente Sabe o Que Acha Que Sabe?

Burnout e UX Design

O burnout pode ser uma preocupação particular para as pessoas da área de design UX ou Product Design.

Esses campos exigem altos níveis de criatividade, resolução de problemas e atenção aos detalhes, o que pode ser mental e emocionalmente desafiador.

Além disso, o ritmo acelerado da mudança tecnológica e a pressão para entregar resultados também podem contribuir para o estresse e burnout.

Portanto, para evitar o burnout nas profissões de UX, é importante tomar medidas para gerenciar o estresse e manter um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal.

É imprescíndivel que as organizações reconheçam a importância da saúde mental e forneçam apoio aos funcionários, como horários de trabalho flexíveis, oportunidades de desenvolvimento profissional e acesso a recursos de saúde mental—além de outros fatores já mencionados.

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