Depois do nosso último podcast, onde falamos sobre as habilidades necessárias para se ter sucesso na carreira de designer, várias pessoas entraram em contato pedindo para abordarmos mais sobre o assunto.
Dessa forma, decidimos tratar mais especificamente sobre as habilidades comportamentais, chamadas de “Soft Skills”.
Mas antes, vamos abordar rapidamente as Hard Skills
Hard Skills são as habilidades técnicas necessárias para desempenhar alguma função/ profissão.
As Hard Skills indispensáveis na área de design já estão na ponta da língua de todos, ou pelo menos deveriam estar.
Caso você esteja mais voltado para UX, as Hard Skills abrangem, entre outras coisas, o entendimento de:
- Metodologias de UX;
- Metodologias de pesquisa;
- Testes com usuário e validações.
Se o seu negócio é mais UI e Visual, podem ser habilidades na área:
- Estética;
- Teoria de cores;
- Tipografia;
- Motion;
- Até mesmo programação front-end.
Existem também habilidades técnicas mais voltadas à gestão de projetos: Filosofia Agile, Lean UX, entre outras.
Nosso objetivo neste artigo não é tratar dessas habilidades técnicas, ou Hard Skills. Mas se você quiser, pode conferir alguns artigos interessantes:
- Como Criar Personas para Projetos de UX Design?
- Desk Research: O que é e como Efetuar uma Pesquisa Secundária;
- Leis de UX: Os Princípios Básicos de UX Design.
O que são Soft Skills?
Não são somente as habilidades técnicas que fazem a diferença na vida do designer.
Um profissional é avaliado também de acordo com suas Soft Skills, ou habilidades comportamentais, e é aí que muitos profissionais encontram dificuldades.
Tais habilidades, em alguns casos, podem ser o motivo pelo qual você vê designers que possuem a mesma formação, tempos de experiência e qualidade do portfólio, avançando de forma diferente no mercado de trabalho. Um tem grande sucesso, trabalha em projetos incríveis e assume cargos de liderança, enquanto outro sofre para se manter por muito tempo em um projeto, e está sempre reclamando e insatisfeito.
Como eu desenvolvo Soft Skills?
É a combinação de várias habilidades comportamentais com as habilidades técnicas que tornam um profissional valioso. É claro que as habilidades técnicas são mais fáceis de se desenvolver. Basta ter um objetivo e focar nos estudos.
Já para desenvolver as Soft Skills você precisa, primeiramente, fazer um processo constante de observação, reflexão, e praticar essas habilidades ao longo da sua vida e carreira.
É importante ressaltar que as Soft Skills variam de contexto para contexto e de empresa para empresa. Algumas valorizam mais o trabalho em equipe, enquanto outras querem um profissional mais autônomo — ou querem ambas as coisas. Até mesmo o significado destas habilidades pode variar em diferentes cenários.
Por isso, é importante que você analise a oportunidade e empresa na qual está interessado, observando quais são as Soft Skills importantes naquela situação, e assim, busque desenvolver aquelas que você ainda não possua. Em geral, dá-se a isto o nome de culture fit.
Montamos aqui uma lista com 5 soft skills que, segundo nosso entendimento, são bastante procuradas pela maioria das empresas.
1) Boa comunicação
A habilidade da boa comunicação inclui tanto a parte ativa — comunicar — quanto a parte passiva — ouvir com atenção.
Um profissional com esse perfil é aquele que não somente se comunica bem, mas, principalmente, aquele que busca promover a comunicação com os colaboradores (sua equipe, os usuários, clientes, etc.) para alinhamento do projeto.
Colaboradores e empresas detestam chegar no final de uma semana para descobrir que você não progrediu, pois empacou em um detalhe que poderia ter sido facilmente esclarecido.
Em times remotos, principalmente, a comunicação é essencial para haver um perfeito entendimento dos objetivos do projeto e sua execução. Uma boa forma de se promover a comunicação é sempre pedir feedbacks, esclarecer dúvidas e manter um canal aberto com a equipe.
Uma boa capacidade de articulação também faz parte da boa comunicação. Para ser capaz de criar algo, precisamos antes ser capazes de articular a ideia de forma clara, palatável e prática. Para liderar um time, é necessário saber articular processos. Para defender uma peça ou processo, precisamos articular a estratégia. A articulação é a linha primária de uma comunicação efetiva. Como desenvolver? Crie pitches, ou discursos curtos para defender suas ideias, escreva-as, compartilhe com seus colegas e peça feedbacks.
Além disso, para se comunicar bem é necessário ter poder de síntese, ou seja, a capacidade de sintetizar informações e dados focando no que realmente é importante. O tempo de todos é valioso, então você precisa ser direto, focar no necessário quando precisar compartilhar informações.
O poder de síntese ajuda você a se concentrar na informação que realmente importa.
Dica de Leitura: Product Manager - Negócios, Tecnologia e User Experience
2) Desapego
Não é raro você idealizar seu projeto de uma forma, mas de repente aquilo mudar completamente. Geralmente isso acontece no momento em que ele é apresentado aos Stakeholders ou validado com os usuários. Mesmo aquilo que você desenvolveu seja de encher os olhos, na prática pode não funcionar. E é aí que você deve praticar o desapego de suas ideias, seus gostos, seus projetos e sua criação.
Você precisa estar preparado para deixar tudo o que você fez de lado, ter uma atitude de no-ego e vaidade zero para repensar e recomeçar tudo novamente, fazendo diferente, pois afinal, o que importa é a satisfação do usuário.
Para você conseguir chegar a esse desapego que estamos falando, é importante ter um senso analítico para avaliar seu próprio trabalho. E isso nada mais é do que a habilidade de visualizar um problema, uma oportunidade ou uma dor de diversos ângulos diferentes.
3) Autonomia e trabalho em equipe (isso mesmo, os dois)
Pode parecer meio contraditório, mas essas Soft Skills incluem tanto a capacidade de trabalhar com pouca ou nenhuma supervisão, quanto trabalhar com uma equipe. O profissional ideal do qual estamos falando é aquele que desenvolve tranquilamente suas atividades sozinho, respeita os prazos e as especificações do projeto, sem a necessidade de um superior dizer o que fazer ou como fazer algo o tempo todo; e no momento em que converge com a equipe, este profissional se encaixa e dialoga bem com as outras áreas.
Portanto, fica claro aqui que o profissional autônomo não é aquele que coloca os fones de ouvido, vai para o canto, e chega com a solução miraculosa (já falamos sobre boa comunicação, né?), mas sim a pessoa que tem iniciativa própria em solucionar problemas — ou até mesmo encontrá-los — sem precisar ser mandado por alguém, gerando valor dentro da equipe como um todo.
4) Empatia
A empatia é basicamente o processo de se colocar no lugar do outro. No design, é uma Soft Skill crucial, pois o designer precisa tentar sentir a dor do usuário para trazer uma solução adequada (ao invés de gerar mais dor, que é o que acontece quando não se tem as qualidade que falamos até aqui).
Sempre deve-se criar algo do ponto de vista do outro e não de si próprio, a fim de melhorar a qualidade de vida e resolver problemas reais, e não o que julgamos como problema por nós mesmos. Metodologias como Design Thinking giram em torno de um processo que busca desenvolver empatia e combiná-la a soluções práticas.
Da mesma forma que é importante ter empatia com o usuário, a empatia é importante para lidar com a equipe. O bom profissional deve se colocar no lugar de seus colegas de trabalho e de outras áreas (programadores, departamento comercial, marketing, entre outros) para criar algo que seja executável para eles.
Você deve sempre pensar nos projetos como algo que atinja os objetivos de outros setores da empresa, e não apenas na peça de design (portanto, corre lá e renomeie aquele Layer 531 no seu arquivo de design). Além disso, os projetos não podem ser somente excelentes no ponto de vista técnico, devem ser lucrativos. Aqui entra a empatia com a empresa e seus objetivos de crescimento e lucratividade.
Dica de Leitura: O Que é Empatia e Por Que é Importante em UX Design?
5) Curiosidade
A curiosidade é a raiz da inteligência, do senso de humor e das conexões entre as pessoas. É o ponto de partida de onde sai o design, e é essencial na troca de informações. Sem a curiosidade, não somos capazes de criar algo novo.
E como desenvolver a curiosidade?
Torne-se um questionador das coisas, de si mesmo, procure descobrir a origem das informações, dos processos. E quando digo para tornar-se um questionador, não é no sentido de questionar as opiniões e as pessoas, mas sim de descobrir de onde veio cada detalhe, cada peça de uma informação. Dessa forma, você estará aguçando sua curiosidade e desenvolvendo sua empatia.
Calma, não se desespere!
As 5 soft skills que comentamos aqui são importantíssimas, mas não são habilidades que você vai desenvolver em uma semana ou em um mês. São coisas que você vai desenvolvendo ao longo da sua vida e da sua carreira. Trata-se de um aprendizado constante que leva a vida toda.
Porém, é bom ficar de olho, refletir, e, sempre que puder, colocá-las em prática em seu dia a dia. Desenvolver estas Soft Skills em paralelo às suas habilidades técnicas é essencial para se ter uma carreira de sucesso.
Concluindo
Durante a sua jornada como designer, muitas vezes você vai se questionar e se avaliar, e isso é muito importante. Então, faça sempre esse exercício mental e se pergunte:
- Estou me comunicando bem?
- Estou tendo empatia?
- Estou praticando o desapego?
- Estou sendo autônomo e tendo iniciativa?
- Como eu interajo com meus colegas de equipe?
- Sou uma pessoa curiosa e questiono as coisas?
Fazendo isso, com certeza você se tornará um profissional — e até mesmo uma pessoa — muito melhor.