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Entrevistas

A Psicologia me Fez Migrar para UX Design — Entrevista com Monique Nakagawa

por
Felipe Guimaraes e Equipe Aela
19/4/2023
4
minutos de leitura
Índice de conteúdos

Monique é aluna do Master Interface Design, mirou para UX Design e hoje atua internacionalmente, em Lisboa.

Nesta entrevista, ela nos conta sua história inspiradora, em que de revisora de texto, passou para a psicoterapia e depois para UX Design.

Além disso, passou dicas sobre como organizou seus estudos e como a Psicologia foi determinando para se interessar em UX.

Monique, fala um pouco sobre você

Eu sou a Monique e sou formada em Letras português-espanhol, mas desde pequena estudei muito inglês, por mim mesma.

Depois que me formei, fui trabalhar como revisora de texto, mas eu não gostava muito do que fazia.

Apesar disso, eu era uma revisora de texto muito boa. Por anos, ficaram me oferecendo trabalho, mesmo eu não querendo mais trabalhar com isso.

Eu decidi mudar de carreira e transformar meu hobby em trabalho. Eu sempre gostei muito de desenhar, então fui trabalhar como designer/ilustradora em uma empresa de vídeo-aulas e foi ali que comecei a entrar mais em contato com a parte de interface.

A gente fazia as interfaces para o moodle das video-aulas, das aulas online, para as empresas clientes.

Depois dessa experiência, continuei trabalhando como designer e ilustradora. Mas chegou uma hora que eu me cansei dessa vida e percebi que estava precisando sair da minha zona de conforto.

Então, eu fui para a Irlanda fazer uma faculdade de psicoterapia. Ou seja, minha segunda gradução é em psicoterapia.

Durante todo o meu caminho até hoje, a psicologia se tornou uma grande paixão. Aliás, não foi por causa do design que eu migrei para UX Design, foi por causa da psicologia que eu mudei para UX.

Em um certo momento, eu decidi que não queria atuar com atendimentos em psicoterapia, então, fui pesquisando e verificando possibilidades.

Nisso, um amigo meu me perguntou por que eu não tentava migrar para UX e me mandou um link da Aela. Acabei assinando a newsletter e fui recebendo alguns conteúdos.

Mas, nessa época, a minha vida estava bem corrida na Irlanda e eu não conseguia nem abrir meus emails direito. Certo dia, consegui um tempo, abri meu email e vi um email da Aela e decidi pesquisar mais sobre isso.

Eu já tinha feito um curso bem rápido sobre UX Design para ver se eu ia gostar da área e eu me apaixonei. Por isso, quando vi o curso da Aela, eu comprei imediatamente.

Percebi que UX era o que eu realmente queria, me apaixonei demais pela área e o livro Design Emocional do Don Norman é o amor da minha vida.

Por conta disso, eu quis entrar de cabeça em UX Design.

Como ilustradora, acabei matando meu hobby e isso foi uma coisa muito pesada na minha vida. Desenhar se tornou uma coisa ruim e eu precisava de algo diferente, que também fosse uma paixão, mas para o trabalho.

Hoje, eu trabalho como UX Designer para algumas empresas, e moro em Lisboa, Portugal.

Portfólio Monique Nakagawa

Seu background é muito interessante e você poderia ter ido para diversos caminhos. O que em psicologia te deu vontade de trabalhar com UX?

Eu acho que o comportamento humano. Quando eu escolhi psicologia, eu escolhi ajudar as pessoas.

Eu estava muito insatisfeita com design, porque era um trabalho muito egoísta. Era muito ego, as pessoas querem ser as melhores e tal.

Eu tava cansada disso e queria um trabalho para ajudar as pessoas. Por isso eu fui para psicoterapia.

Mas eu não estava me encaixando tanto na questão da terapia. Eu sempre fui ligada mais a comportamento humano, a observação dos comportamentos e tentar ajudar as pessoas a partir disso.

A psicoterapia é diferente da psicologia.

Psicologia estuda o comportamento humano. Como psicologia era um curso muito caro na Irlanda, resolvi fazer psicoterapia que engloba essa parte de comportamento, mas foca bastante em terapias.

Na parte de terapias, a gente aprende uma série de coisas que podem ser aplicadas em UX, como empatia e saber ouvir as pessoas. Como terapeuta você ouve muito as pessoas e, a partir disso, vai tentando ajudar e fazer com que elas encontrem os melhores caminhos para si.

Eu comecei a ver essa semelhanças entre psicoterapia e UX, e quando li o livro do Don Norman, fiquei bem surpresa com tudo.

O Norman tem muito dessa questão cognitiva-comportamental, que é o que me chamou mais a atenção em UX Design.

Tentar entender a cognição e o comportamento das pessoas, tentando trazer e traduzir isso para uma boa experiência com um produto ou serviço.

Dica de Leitura: A Importância da Psicologia em UX Design

O que te deu tanta certeza de que era com UX Design que você queria trabalhar?

Acho que foi exatamente a conexão entre psicologia e comportamento humano com Design.

No curso que fiz antes do MID, a abordagem era muito boa. Mas era um curso para explicar o que é UX Design e não um curso para formar UX Designers.

Quando a Aela lançou o workshop, eu participei e isso abriu a minha cabeça. Pensei que era exatamente aquilo que eu queria.

Então, obviamente, comprei o MID e fui assistindo as aulas.

Foi muito interessante porque o que mais me ajudou não foram somente as aulas do curso, mas as aulas extras e a interação com a comunidade.

A partir disso, comece a perceber muitas coisas sobre UX Design, que era muito do que eu já imaginava.

Quando eu trabalhava como designer, algo que me incomodava muito era ter que fazer algo muito rápido e entregar com baixa qualidade, apenas para cumpri o prazo. Isso me incomodava muito.

Isso acontecia inclusive quando eu ainda era revisora de texto, porque esse é um trabalho que leva tempo para entregar algo com qualidade. Não ter essa entrega partia meu coração.

Comecei a perceber que essa preocupação com a qualidade e mentalidade, em UX, era diferente. E eu queria trabalhar com isso.

Outra coisa que me fez migrar para UX foi realmente o livro do Don Norman, que é o meu livro de cabeceira até hoje. Foi um dos livros que mais me animou. Cada parágrafo que eu lia me deixava muito animada. Fazia diversas anotações e tudo o mais.

Eu me identifiquei muito ali.

Portfólio Monique Nakagawa

Como você organizou sua rotina para que os estudos fluíssem melhor? Você tem alguma dica?

Acho que uma dica é não achar que você está ficando para trás, porque você não tem tempo para estudar e acaba se desesperando.

Isso aconteceu muito comigo. Bati muito a cabeça na parede com isso.

Não foi fácil. Foi muito difícil!

E tá tudo bem não ser fácil, porque é difícil mesmo.

Eu tenho descendência japonesa, então a cobrança que eu tenho de mim mesma é gigante. Então, eu sempre estava me cobrando sobre estudar. E eu estudei muito mesmo.

Quando estourou a pandemia e todo o caos, para mim foi um momento bom, no sentido de ter tempo livre para estudar.

Nesse sentido, eu fui muito privilegiada de estar na Irlanda durante esse período. Lá, o governo ajudou as pessoas que estavam afastadas do trabalho, então eu estava recebendo para ficar parada.

Com isso, a cobrança ficou ainda maior. Eu pensava que eu não podia ficar parada, eu estava recebendo para estudar, digamos assim.

Então, eu cai de cara nos estudos.

E nessa época aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo, eu estava mudando de país e todo esse processo não foi fácil, você sabe.

Mas a minha vontade era tanta que me esforcei muito. Todo o tempo que eu podia eu passava estudando.

Outra dica importante também que você diz bastante que é priorizar os estudos. Filtrar o que está estudando é muito importante e eu faço isso até hoje... acho que hoje eu faço mais ainda.

Uma dificuldade que tive durante esse período foi por estar distante da tecnologia e tal. Eu não estava sabendo de nada sobre esse assunto.

Então, eu precisava pesquisar bastante coisa com relação a tecnologia também. Eu usava o Google o tempo todo e isso acaba sobrecarregando a cabeça, deixa a gente muito cansada.

E tudo bem, mas é importante ter um tempo para descansar. Isso é o principal.

Não se cobrar muito, porque assim as coisas vão fluindo.

Pra mim, foi assim. Quando eu decidi que não iria me cobrar tanto, quando eu comecei a entender mais as coisas, tudo foi fluindo melhor.

Nesse ponto, a estrutura do MID foi muito importante pra mim. Ir passo a passo é fundamental.

Às vezes a gente quer chegar correndo, mas quanto mais pressa você tem, mais longe você está do seu objetivo.

Tinha momentos em que eu tinha muita pressa, e por isso eu não conseguia estudar direito. As coisas ficavam mais confusas de entender.

Quando eu entendi que teria que ser a pequenos passos, as coisas começaram a fluir melhor.

Outra coisa que ajuda bastante é saber seus próprios limites. Eu, por exemplo, sou muito lenta para ler. Então falar em ler um livro por mês é muito pra mim!

Tá tudo bem você ir no seu próprio ritmo.

Por último, eu me dei conta de que, apesar do meu background em design, a gente acha que sabe das coisas, mas no final não sabemos de nada!

Eu tive que aprender muito e reprender diversas coisas.

Na verdade, meu background em design não me ajudou para muita coisa.

Acho que o design gráfico englobou cerca de 30% de tudo o que aprendi. No final do dia, UX Design envolve muitas coisas, negócios, comportamento humano, etc.

É muita coisa ao mesmo tempo e design gráfico acaba nem contando tanto.

Dica de Vídeo: Como Planejar Meus Estudos?

Eu percebi que quem vem do gráfico tem o costume de trabalhar com briefing de projeto. Em UX Design não é assim, você vai construindo pouco a pouco. Você teve alguma dificuldade com isso?

Eu tive esse tipo de dificuldade porque eu sou perfeccionista, e eu não vejo o perfeccionismo como uma coisa boa.

Hoje eu vejo que é mais um problema do que solução.

Eu tinha muita ansiedade por causa disso, tinha que entregar os projetos todos certinhos e perfeitos.

Mas não façam isso. Não é assim que funciona.

Uma coisa que me ajudou muito foi a me desligar completamente do design gráfico, colocando na cabeça que UX não é design gráfico, é outra coisa.

Esse pensamento me ajudou bastante.

Eu fiz mais ou menos a mesma coisa quando resolvi estudar inglês.

Eu aprendi inglês sozinha, desde pequena, assistindo filmes. Quando virei adulta, resolvi fazer um curso de inglês e muita gente me disse que eu poderia entrar num nível mais intermediário.

Mas eu não queria. Eu queria entrar no básico para aprender a gramática correta.

Então, acho que com UX seguiu a mesma lógica.

Você pode saber de design gráfico, mas tem uma série de outras coisas que você ainda não sabe ou que até já esqueceu.

Pra mim, UX Design é diferente do design gráfico, pelo menos do que eu aprendi na minha época.

Portfólio Monique Nakawaga

Você comentou de ter filtros para estudar. Que dica você daria para quem precisa filtrar conteúdos de estudo?

Basicamente o que eu faço é ter pensamento crítico.

A partir do momento que você vai ganhando maturidade, você vai entendendo como filtrar melhor as coisas.

O que é bom e o que não é bom para você.

Em segundo lugar, a gente vai percebendo que determinados conteúdos não estão exatamente agregando coisas, eles só estão se repetindo de outras coisas que já lemos ou vimos.

Você vai aprendendo quais conteúdos estão mais alinhados com aquilo que você precisa no momento.

Por exemplo, eu quero muito me especializar em pesquisa.

Então, eu vou procurar conteúdo de pesquisa. Hoje eu sei quem são os criadores de conteúdo de pesquisa que agregam pra mim.

Mas eu acho que o pensamento crítico é o principal.

Como teve um boom de criação de conteúdo de UX, a gente tem que saber o que está consumindo, porque você pode perder muito tempo vendo coisas que não estão te agregando.

Hoje, eu uso uma técnica que eu aprendo na faculdade da Irlanda que é, basicamente, procurar arquivos em PDF, artigos científicos e essas coisas para estudar.

Tem muito conteúdo na internet baseado em achismo, e isso é muito perigoso.

A gente tem que fugir do achismo. A maneira com que eu fujo do achismo é com artigo científico.

E mesmo assim, você tem que ter pensamento crítico para poder contestar o artigo. Será que é isso mesmo? Então, vou procurar outros materiais para reforçar aquele conteúdo.

Outro dia estava procurando sobre Dark Mode, o quanto isso é bom ou não, como utilizamos e etc.

Fui procurar em artigos científicos, e não no Medium. Porque às vezes é muito perigoso isso.

Dica de Leitura: 9 Soft Skills Para Designers: Como Se Destacar Na Profissão

Como foi o processo de decidir procurar emprego em UX Design? Você se sentia pronta para isso?

Pronta eu não me sentia. A gente nunca se sente pronto, ainda mais se você tem síndrome do impostor como eu.

Comigo, isso é bem forte e trabalhei muito isso na terapia, para tentar me sentir suficiente.

Como ilustradora, eu fazia o seguinte: eu não vou começar um desenho porque não tenho tal caneta, tal pincel, tal aquarela. Eu meio que ia me sabotando.

Decidi que eu ia cortar essas coisas da minha vida.

A partir do momento que eu pensei que iria embarcar na jornada, as coisas ficaram melhores.

Eu pensava em como eu tenho a agregar, como tenho entusiasmo e vontade; como tenho conteúdo.

No meu segundo ano de estudos em UX Design, eu peguei forte para me dedicar tanto nos estudos como em aplicar para vagas também.

Eu aprendi muito com esse processo.

Às vezes eu tinha medo de receber 'não', de me sentir rejeitada e frustrada.

Mas no final das contas, esses 'nãos' me ensinaram muito. E os próprios recrutadores me ensinaram muito também.

Teve caso de recrutador tirar 1h do dia para me ensinar alguma coisa.

Então, eu sempre tive muita falta de auto confiança, e eu fui trabalhando isso e as coisas foram se encaminhando.

Portfólio Monique Nakagawa

Se você pudesse voltar ao passado o que falaria para a Monique que estava começando a se interessar por UX Design?

Eu acho que falaria justamente para ter mais auto confiança e acreditar mais em si mesma.

A gente acha que não consegue, mas no final das contas a gente consegue sim. Nós somos auto suficientes sim.

Eu também diria para ela relaxar.

Como eu disse, sempre vou me cobrar muito. E a cobrança na época foi tão intensa que eu quase tive um burnout.

Hoje, eu ainda tenho dificuldades de pegar nos livros depois de um dia de trabalho.

Eu me formei em duas faculdades, fiz dois TCCs juntos e tudo isso foi muito estressante.

Então, dar uma relaxada e pegar leve consigo mesma. Seja gentil consigo e faça as coisas no seu ritmo.

Eu acabei correndo porque precisava correr, por necessidade.

Mas eu falaria para mim mesma pegar leve e não se cobrar tanto.

Uma coisa é você estudar bastante, outra coisa é estudar e se autoflagelar.

Eu fazia isso.

Então, diria para pegar leve e acreditar mais em você.

Monique, muito obrigado e muito sucesso pra você!


 

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