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Arte Visual

Chiaroscuro: A Arte da Luz e da Sombra

por
Felipe Guimaraes e Equipe Aela
23/1/2023
4
minutos de leitura
Índice de conteúdos

A luz e a sombra são elementos fundamentais das artes visuais e saber trabalhar com elas pode fazer toda diferença no resultado final de uma obra. A técnica chiaroscuro é muito interessante para que artistas tire o melhor da luz, sombra e suas tonalidades.

Neste artigo falamos sobre o que é a técnica chiaroscuro, quais os artistas que a consolidaram e como ela influenciou outras artes visuais.

O que é chiaroscuro?

Chiaroscuro — ou claro-escuro — é uma técnica de pintura que se consolidou e ficou famosa no período da Renascença, no século XV.

A técnica consiste, basicamente, num alto contraste entre luz e sombra e exige bons conhecimentos em perspectiva, efeitos físicos da luz, dos brilhos e até mesmo das tintas que são utilizadas. Ou seja, é uma técnica bastante complexa e avançada, com resultados bastante marcantes.

O contraste é a força motriz do chiaroscuro. É a partir dele que são definidos os objetos  — sem usar linhas de contorno — e o volume, por meio das sombras mais definidas.

De forma geral, uma pintura baseada na técnica do chiaroscuro possui seus motivos a princípio escuros, iluminados por uma fonte de luz única não apresentada na cena.

O chiaroscuro influenciou outros movimentos artísticos como o Barroco e o Maneirismo, além do que ficou conhecido como Tenebrismo, onde a técnica é levada ao extremo.

Dica de Leitura: Cores - Um Guia Rápido Para Usar Em Seus Projetos

A história por trás da técnica

Apesar da técnica chiaroscuro ter sido consolidada e ficado famosa durante a Renascença, ela não surgiu exatamente nessa época.

Existem pinturas do artista grego Apolodoro (século V a.C.) que já utilizavam as sombras e contrastes para construir volume. Infelizmente, nenhuma das artes de Apolodoro sobreviveu ao tempo, mas é possível encontrar sua influência e técnica em artes gregas do período Helenístico.

No Renascentismo, a técnica foi retomada e aperfeiçoada.

O Renascimento tinha como proposta reviver os ideias clássicos e antigos, como da Roma Antiga e da Grécia Antiga. Dessa forma, o movimento propôs foco no antropocentrismo, humanismo e individualismo, sem se desprender totalmente, no entanto, do cristianismo e da religião.

O primeiro artista da Renascença a trabalhar com sombras e luz foi o Leonardo Da Vinci. Ele usava um papel colorido e adicionava cores, luz e tons através de tinta, giz e carvão.

Da Vinci pintava camadas de cor a partir dos tons escuros, clareando áreas de interesse e criando sombras para agregar volume.

Leonardo Da Vinci e o chiaroscuro
Leonardo da Vinci: The Virgin and Child with Saint Anne and Saint John the Baptist

Novos tipos de tinta

A Renascença não foi somente uma época marcada por grandes artistas e obras, mas também pelo desenvolvimento de um novo recurso: a tinta a óleo.

Antes da tinta a óleo, os artistas usavam outras técnicas como a têmpera, onde a tinta e os pigmentos eram misturados com clara de ovo.

O problema dessa técnica era a sua opacidade e a sua característica de secagem rápida, isso impossibilitava a pintura de várias camadas.

A tinta a óleo é uma tinta de secagem lenta, em que os pigmentos são misturados em algum tipo de óleo.

O desenvolvimento da tinta a óleo ajudou também no desenvolvimento do chiaroscuro, uma vez que sua secagem lenta e translucidez permitiam que artistas pudessem misturar  e criar diversas tonalidades.

Artistas que consolidaram o chiaroscuro

Leonardo Da Vinci foi o primeiro renascentista a trabalhar com o constraste, luzes e sombras, começando a popularização do chiaroscuro.

No entanto, outros artistas aprimoraram ainda mais essa técnica e conseguiram criar obras marcantes e se estabelecer como mestres do chiaroscuro.

Não tem como falar sobre essa técnica sem mencionar Michelangelo Merisi da Caravaggio.

Caravaggio: levando o chiaroscuro ao extremo

Caravaggio dedicou parte da sua vida produzindo obras utilizando a técnica chiaroscuro. Além disso, o realismo e a alta dramaticidade em sua arte foram características que, em conjunto com o uso das sombras e das luzes, fizeram de Caravaggio um artista provocador.

A arte de Caravaggio era marcada pelos fundos totalmente escurecidos e com os objetos e  modelos iluminados por uma fonte de luz única.

Essa combinação criava um alto índice dramático em suas obras e esse uso extremo dos contrastes e do chiaroscuro deu origem a um movimento chamado Tenebrismo.

O Tenebrismo nasceu na Renascença, mas se fortaleceu no movimento Barroco e se estendeu até o Romantismo.

Dica de Leitura: Caravaggio - Luz, Sombras, Rebeldia e Fotografia

Rembrandt e Gerard van Honthorst: o chiaroscuro holandês

Nem todos os artistas utilizaram a técnica chiaroscuro ao extremo, assim como fez Caravaggio.

Essas abordagens foram importantes também para mostrar que a técnica pode ser utilizada para criar obras profundas sem ir para um lado mais obscuro, provocador ou até mesmo incômodo.

Rembrandt van Rijn foi um artista e um bom exemplo de uso mais sutil do claro-escuro, apesar de sua primeira fase como artista usar bastante a dramaticidade do chiaroscuro, muito por influência do seu professor Pieter Lastman, aluno de Caravaggio.

A Aula de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp, de Rembrandt

Na segunda fase de sua vida artística, Rembrandt utilizou mais tons dourados e suavizou a dramaticidade de suas obras, com personagens mais reflexivos e introspectivos.

Além disso, começou a utilizar a luz não apenas como iluminação do ambiente de suas obras, mas como algo mais ligado ao plano espiritual. Nesse sentido, a luz cria as formas dos objetos e as demais cores ficam submissas a ela.

Essa técnica e sensibilidade fez Rembrandt ser conhecido como mestre das luzes e sombras.

Rembrandt e o chiaroscuro
Dois Homens Velhos Disputando, de Rembrandt

Gerard van Honthorst foi outro mestre holandês que utilizava os contrastes, luz e sombra da técnica chiaroscuro em suas obras.

O artista pintou muitos quadros com temáticas festivas, ao invés de temas religiosos, como fazia Caravaggio. Isso se devia à época que a Holanda vivia, com disputas e conflitos religiosos. Dessa forma, a maioria das encomendas de obras de artes evitava temas relacionados à religião.

Gerard van Honthorst e o chiaroscuro
O Concerto, de Gerard van Honthorst

Georges de La Tour: a vela como fonte de luz

Georges de La Tour foi um pintor francês que também bebeu da influência do chiaroscuro de Caravaggio, no entanto, infelizmente suas obras só foram descobertas muito depois de sua morte.

O artista brincava com os contrastes de luz e sombra, utilizando fontes artificiais de iluminação, como velas e tochas.

Nas suas obras é possível sentir o calor da luz oriunda dessas fontes de iluminação.

Georges de La Tour
Saint Joseph charpentier, de Georges de La Tour

Joseph Wright of Derby e Sir Joshua Reynolds: o chiaroscuro inglês

Mais de 100 anos após a morte de Caravaggio, suas obras e sua técnica dramática do chiaroscuro continuaram influenciando artistas ao redor do mundo — e, na verdade, continua influenciando até os dias de hoje.

A técnica foi utilizada também por dois artistas ingleses durante o século XVIII, Joseph Wright of Derby e Sir Joshua Reynolds.

Ambos artistas foram famosos retratistas, e aplicavam as técnicas de luz e sombra nas suas obras.

Auto retrato de Joseph Wright of Derby
Auto retrato de Joseph Wright of Derby
Auto retrato de Sir Joshua Reynolds
Auto retrato de Sir Joshua Reynolds

A influência do chiaroscuro em outras artes

A partir do fato de que a técnica chiaroscuro trabalha com contrastes entre luz e sombras, a sua exploração por outros tipos de arte torna-se muito possível, principalmente na fotografia e no cinema.

Na fotografia

A utilização do chiaroscuro na fotografia não é de fato surpreendente, tendo em vista que as pinturas possam ser consideradas uma analogia às fotos. Inclusive, há quem considere Caravaggio um dos precursores da fotografia pelo enquadramento de suas obras, uso das luzes e contrastes e iluminação de áreas de interesse, guiando o olhar da sua audiência.

A luz é uma das matérias-prima da fotografia e, por conta disso, nada mais natural do que ter sido influenciada diretamente pelo contraste de luz e sombra do chiaroscuro.

Pode-se perceber bastante a técnica aplicada em retratos, trazendo dramaticidade e impacto nas artes.

Podemos pegar como exemplo o trabalho da fotógrafa brasileira Mônica Paes, com seu projeto, inclusive, chamado Chiaroscuro.

Chiaroscuro, por Monica Paes
Chiaroscuro, por Monica Paes | Fonte: fotografe melhor

No cinema

No cinema, pode-se observar a utilização da técnica de claro-escuro no Cinema Noir, cuja temática mais sombria e pessimista permitiu que o chiaroscuro pudesse trazer características ainda mais dramáticas.

O uso de uma fonte de luz e de sombras exageradas contribuíam para contextualizar e provocar a audiência, fazendo-a mergulhar na trama de forma mais imersiva.

A técnica, e o Cinema Noir de maneira geral, foram bem explorados no Expressionismo Alemão, fazendo com que fossem produzidas obras clássicas do cinema como "O Gabinete do Dr. Caligari" e "Nosferatu".

O video do canal AvMakers explora um pouco mais sobre o uso da luz e das sombras no cinema alemão.

O chiaroscuro teve um importante papel na definição de movimentos futuros, além de impactar a própria época na qual se fortaleceu. Nomes importantes de artistas que usaram a técnica são lembrados até hoje.

Além disso, a influência do claro-escuro em outras mídias e artes é vista até hoje, seja na fotografia ou no cinema.

Por esses motivos, o chiaroscuro não pode ser apenas considerado uma técnica renascentista, mas uma verdadeira revolução na arte.

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