Nesta entrevista, Leandro Arantes, aluno do Bootcamp MID, nos conta como foi o seu processo de migração para UX Design.
Leandro estava numa posição de Head of Digital em uma agência em Recife, mas começou a se incomodar com a subjetividade do trabalho e o interesse crescente na parte de usabilidade.
Ele nos conta como planejou e projetou a sua carreira para efetuar essa migração, para ter o menor impacto e risco possível.
Além disso, Leandro conta uma interessante história sobre a importância de manter a calma e respeitar seus momentos e processos!
Leandro, para começar, conta um pouco sobre você!
Felipe, primeiro eu gostaria de agradecer a oportunidade de poder estar aqui e conversar com você. Acho muito legal a proximidade que a gente tem com vocês da Aela.
Bom, eu sou o Leandro, tenho 32 anos e sou de Recife. Meu background é em publicidade e propaganda, com vivência em agências e em comunicação. Tenho um MBA em Marketing e uma especialização em Marketing Digital.
Durante a minha vida profissional tive experiências como Diretor de Arte, Líder de Criação, Coordenador e depois Head of Digital, onde eu comecei a me interessar mais pela área de dados e mídia.
Eu atuava nesse mercado há uns 7 ou 8 anos e a minha vivência sempre foi baseada em design e visual.
Por que você decidiu migrar para Product Design e UX, mesmo com uma situação estável e boa experiência?
Acho que você falou uma palavra importante: eu estava estável.
Na última agência que trabalhei, eu era Head of Digital e tinha muita liberdade e carta branca para desenvolver projetos, conversar com clientes, contratar pessoas, etc. Tinha também muita proximidade com o CEO.
Além disso, financeiramente eu também estava confortável, com uma boa estrutura para manter a minha família — sou casado e tenho um filho.
Mas uma coisa que vinha me incomodando, principalmente no ambiente de agência, era a subjetividade que a publicidade tem.
Você produz uma peça, um layout, não pensando no público, mas pensando em agradar o cliente, o dono, a filha do dono, o namorado da filha do cliente!
Esse tipo de situação acabou me incomodando. Acho que quando você vai amadurecendo profissionalmente, essas situações vão doendo mais do que deveriam.
Um pouco por conta disso foi que eu comecei a me envolver mais com a área de usabilidade, coordenando o desenvolvimento de sites, junto com os web designers.
Eu comecei a gostar de usabilidade porque quis entender as lógicas e os motivos de utilizar certos recursos para chegar a um resultado específico. Por que esse caminho e não outros?
Com isso, fui me aprofundando e foi aí que houve o momento de virada de chave!
Dica de Leitura: O Que é Design Centrado no Usuário e Como Aplicá-lo no Dia a Dia?
E quando essa chave virou, qual era a sua expectativa com a área de UX Design?
Minha expectativa era entender mais sobre UX e usabilidade.
Eu sempre gostei de estudar e por isso comecei a procurar materiais de forma mais informal.
Nisso, encontrei o blog da Aela, que já tinha bastante coisa sobre UX, e entendi que aquilo já serviria como um norte pra mim; para eu entender qual o caminho que eu poderia seguir.
No começo, quando comecei a me interessar mais, eu estava sem pretensão alguma. Como falei, eu estava estável e seguro no meu emprego.
Mas conforme eu fui entendendo melhor sobre a área, eu comecei a me sentir muito atraído por ela. A minha expectativa cresceu e se tornou, de fato, um desejo de migrar de carreira.
Eu só não esperava que essa transição fosse tão rápida e tão agradável de se fazer!
Como foi o momento em que você decidiu estudar pra valer? Chegou a construir alguma rotina?
Eu costumo dizer que eu fiz um MVP (Minimum Viable Product) dos meus estudos.
Nesse sentido, eu comecei da forma mais barata, consumindo conteúdo sobre UX Design pela internet e comprando livros.
Além disso, conversei bastante com um amigo meu que já era da área de produto, uma pessoa super experiente!
Então, eu fiz esse MVP e comecei a consumir bastante conteúdo e livros.
Quando me dei conta, eu estava realmente envolvido com a parte de produto e UX Design, querendo muito trabalhar na área.
Por conta disso, comecei a aplicar alguns conceitos nos meus processos da agência onde eu trabalhava, como entrevistas com usuários e testes A/B.
Acabei utilizando a agência como um laboratório, graças à liberdade que eu tinha.
Quando explodiu a pandemia, em 2020, eu comecei a trabalhar em Home Office. Minha esposa estava grávida e eu ganhei um tempo considerável na rotina. Não precisava sair ou me deslocar.
Nesse momento, pensei: é agora!
Eu já namorava a Aela há um tempo, consumia bastante conteúdo e havia assistido algumas entrevistas com alunos. Decidi virar totalmente a chave e entrar para o MID.
Quando você entra no curso, encontra um monte de conteúdo e acaba querendo estudar tudo ao mesmo tempo.
Por isso, montei um rotina diária, cerca de 1 ou 2 horas, ou o que eu conseguisse, para conseguir estudar.
A minha rotina se manteve basicamente essa: ler livros, ver aulas e tentar aplicar os conceitos dentro da agência que eu trabalhava.
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Pandemia, estudos, esposa grávida! Como você fez para manter o foco?
Eu e minha esposas somos bem tranquilos, na verdade.
Por conta da pandemia e do cenário caótico, a gente não tinha muito o que fazer.
O pensamento era: eu já estou em casa o dia todo, no escritório, estamos juntos e está tudo bem. Vou estudar por uma hora e qualquer coisa é só abrir a porta e me chamar!
E tudo bem! Porque imprevistos acontecem, já sabíamos disso.
A gente tinha a segurança dos dois estarem em casa, e isso foi bem importante.
Fomos muito colaborativos e a minha esposa é muito tranquila. O que fizemos foi uma mini gestão de crise. Cenário pandêmico, gravidez e tudo o mais. A gente conversou muito sobre tudo isso.
Uma das minhas motivações era justamente o nascimento do meu filho. Eu queria ter uma qualidade de vida melhor e não chegar todo dia as 22h, fazer reunião de sábado, ter que viajar a trabalho.
Eu desejava ter uma estrutura para atender melhor a minha família e isso foi uma pensamento importante que foi contemplado meses mais tarde.
Projetar aonde eu queria estar e como eu queria estar foi o que me ajudou a manter o foco nos estudos durante esse período!
Como foi o seu processo de migração para UX Design? Quanto tempo demorou?
Eu tenho uma história legal para contar sobre a velocidade de migrar para UX e a ilusão que a gente cria sobre ela.
Eu entrei no MID na turma de 2020, em abril, e tive aquele sprint inicial de muito estudo, tentando cumprir com a rotina.
O tempo que eu não conseguia assistir as aulas ou estudar, eu estava lendo livros. Isso também foi algo muito importante para que eu conseguisse entender melhor sobre UX, usabilidade e como as pessoas trabalhavam.
Depois de uns dois meses de curso, após a entrega do primeiro projeto do nível zero, apareceu uma oportunidade, uma vaga!
Fiquei super ansioso, claro! Eu apliquei pra essa vaga, fui bem nas primeiras etapas, mas acabei não passando nas etapas finais.
E isso me frustrou muito, demais!
Fiquei tão desanimado que até me distanciei dos estudos.
Mas então eu fui retroalimentando o meu processo. Lembrei que eu tinha acabado de finalizar o nível zero, eu estava no início ainda! Fui um pouco precipitado, mas não era motivo para eu me desmotivar tanto, naquele momento.
Percebi que, apesar da negativa, a experiência do processo foi muito boa pra mim. A galera gostou do meu portfólio, de como apresentei o processo. Mas eu não estava maduro pra vaga ainda.
Fazer essa análise foi bom porque abriu a minha cabeça e me fez voltar a focar naquilo que eu precisava fazer.
Logo após o nascimento do meu filho, eu apliquei para uma outra vaga, dessa vez com bem menos ansiedade e expectativa. A vaga era muito boa e eu tinha muitas dúvidas, então até achava que não seria possível passar.
Mas fui chamado, passei 1 mês no processo seletivo e, logo que voltei de férias, recebi a ligação de que tinha passado no processo.
Com toda essa história, o que posso dizer para as pessoas que querem migrar para UX Design é vai com calma!
As coisas não vão acontecer em 1 ou 2 meses. É importante entender que é longo o processo de internalizar os aprendizados, testar, procurar entender, falar com as pessoas, consumir conteúdos, alimentar o seu conhecimento, etc.
Você sabe dizer o quanto teve que avançar no MID e nos estudos em UX Design para estar preparado para essa vaga?
Saindo do nível zero rolou a vaga que não passei e essa oportunidade nova surgiu quando eu estava no nível 1.
Então, acho que foram mais uns 2 ou 3 meses de estudo e dedicação.
E nesse meio tempo, eu entendi como que o processo do MID poderia me ajudar a evoluir muito mais.
Na entrega de cada projeto, em cada nível, eu sempre analisava para ver o que poderia estar faltando, o que poderia melhorar, antes de enviar a versão final.
Mas o que eu percebi é que temos que mandar o projeto o mais rápido possível (com qualidade, claro), para errar rápido, receber rápido o feedback, consertar rápido e aprender rápido!
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Você recebeu outras propostas além dessa vaga?
Na mesma época que rolou a vaga que eu estou hoje, teve também outra oportunidade.
Certo dia eu recebi uma ligação de uma empresa aqui de Recife dizendo que queria me contratar.
Falei com eles e na hora eles disseram que a vaga era minha!
Nesse momento, eu lembrei da ansiedade e do processo da primeira vaga que participei, da qual eu não passei.
Então, eu segurei a ansiedade, procurei ter calma e não aceitei de bate pronto.
No mesmo dia à noite, a outra empresa me ligou e disse que eu havia passado no processo deles!
Eu fiquei muito feliz, porque eu entendia que essa vaga fazia muito mais sentido para o meu momento do que a outra.
Eu liguei pra outra empresa, agradeci, mas disse que eu havia passado em outro processo.
Como foi fazer uma transição de Head of Digital para uma vaga mais Júnior em Product e UX Design? Qual impacto que você sentiu?
Eu acho que, de maneira geral, quem decidir migrar para UX precisa pensar na situação, nos prós e contras.
Naturalmente, você vai acabar concorrendo para vagas mais juniores e com o salário menor do que o atual.
No meu caso, eu consegui a minha primeira oportunidade já como pleno. Mas eu já havia me preparado para migrar como júnior, caso fosse necessário, e ter um salário menor por um momento.
Tudo foi pensado, principalmente porque eu estava com um filho pequeno e eu precisava que essa transição tivesse o menor impacto possível. Não foi uma decisão fácil nem rápida.
A dica que posso dar é pensar bem e entender que você pode precisar abraçar uma oportunidade mais júnior, mas que essa também pode ser a chance de construir um portfólio mais robusto, principalmente nesse momento de transição.
Se você estiver cursando o MID, aproveita os feedbacks dos mentores, a estrutura do curso. Dê atenção aos projetos, e construa um bom portfólio com eles. Isso vai te permitir competir por uma vaga melhor.
No meu caso, o impacto da migração para UX não foi tão grande. Até porque o salário ficou bem equiparado ao que eu ganhava antes.
Além disso, a empresa que estou é muito bem estruturada e isso é importante.
Se você tiver a possibilidade, procure por empresas mais maduras e estruturadas, que oferecem um bom pacote de benefícios. Isso com certeza vai te ajudar na transição.
No final do dia, tudo volta para o que já estávamos falando: tenha calma.
Analisa a empresa para qual você está participando do processo. O mercado está bem aquecido, mas as empresas são diferentes. Umas são mais maduras, outras nem tanto.
Acho importante tentar ponderar esses pontos.
Como que você contou sua história para os recrutadores, para que entendessem que essa transição fazia sentido para você e para a empresa?
Realmente fazem essa pergunta!
"Se você já tem um cargo grande, porque está fazendo essa mudança para uma vaga menor?"
Eu sempre fui muito transparente com essa resposta e contei a minha história exatamente como contei aqui.
Comentei que eu tinha um plano, uma projeção de carreira. Sabia onde eu queria estar daqui um tempo e disse que acreditava que trabalhar com eles [naquela empresa] era o melhor caminho para cumprir com esse plano.
Além disso, listei todas as contribuições que acreditava poder fazer para a empresa e deixei bem claro que o que eu queria para o meu futuro era exatamente aquilo, e não mais o que fazia como Head of Digital.
Então, durante todo o processo eu fui extremamente transparente e honesto.
Foi legal porque deu um match entre o que eles estavam procurando e o que eu estava buscando.
Acho que a dica que eu dou é seja verdadeiro consigo mesmo e com o seu processo seletivo. Não ficar enrolando, ou sendo arrogante.
Não faça isso.
Fica na sua e se é isso o que realmente quer, você vai encontrar uma resposta coerente para esse tipo de pergunta.
Dica de Leitura: Como Mandar Bem Em Um Processo Seletivo para UX Design?
Você comentou que leu muitos livros sobre UX. Quais você recomenda?
Alguns livros me ajudaram bastante!
A primeira recomendação é o "Não Me Faça Pensar". Eu acho que esse é o livro base para todo mundo entender como o usuário se comporta em ambientes digitais.
Por isso, acho ele fundamental para quem quer migrar para UX.
Outro livro que recomendo é o "Jobs To Be Done". Esse livro foi importante para eu entender melhor sobre o processo de design.
Mais uma recomendação seria o "Manual de Experiência do Usuário".
Enfim, tem vários outros!
Acho que vale a pena dar uma olhada na bibliografia do MID, porque são todos livros muito bons!
Para finalizar, qual foi o seu maior aprendizado durante essa trajetória e que você diria para o Leandro do passado?
Eu diria: mete a cara e vai! Porque o negócio acontece e você não vai se arrepender!
O maior aprendizado que eu tive até agora foi me conhecer como profissional, entender meu momento, saber meus limites.
Diria também para projetar a carreira com tranquilidade, obedecendo espaços, sem querer consumir todo conteúdo de uma vez. Não ficar só estudando, 8 horas todos os dias. Crie conexões e alimente o que você está aprendendo.
Obedeça esses espaços porque as coisas vão acontecer naturalmente. Isso é fato!
Obrigado pelo seu tempo, Leandro! Te desejo muito sucesso na sua trajetória!