Não é incomum andar pelas cidades e ser impactado por uma arte de rua, colorida, intervencionista e muitas vezes com críticas sociais e políticas. Esse é o caso do Grafite, uma arte urbana que vem se tornando cada vez mais forte.
No entanto, ainda há muito preconceito e polêmica ao redor do Grafite. É arte, é vandalismo? É diferente de pichação?
Neste artigo vamos falar um pouco sobre as origens do Grafite e suas características. Mas primeiro, vamos dar um passo pra trás e entender o que é Arte Urbana.
Arte Urbana e o impacto na cidade e nas pessoas
A arte urbana é um manifestação artística caracterizada pela intervenção em ambientes públicos, como muros, praças e placas de rua.
Por conta disso, a arte urbana interage diretamente com as pessoas que passam ou utilizam esses espaços públicos diariamente ou ocasionalmente.
As manifestações mais comuns de Arte Urbana são:
- Grafite;
- Apresentações artísticas (músicas, teatro, etc);
- Estátuas vivas;
- Cartazes Lambe-lambe e adesivos;
- Projeções em muros ou prédios;
- Instalações artísticas.
Portanto, quase certeza de que você já foi impactado alguma vez por algum tipo de Arte Urbana na sua cidade.
A importância dessas manifestações é justamente tornar a arte mais acessível para todas as pessoas, retirando-a de galerias e locais privados. Além disso, a arte urbana traz muitas reflexões sociais e políticas, o que cria grande identificação pelo público.
Neste artigo daremos mais profundidade ao Grafite, uma das artes urbanas que ganhou mais destaque e que tem artistas brasileiros reconhecidos internacionalmente.
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O que é Grafite?
O Grafite é uma das mais crescentes manifestações de arte urbana no mundo. Ela se faz presente em muros, fachadas, paredes e diversas vias públicas das cidades.
Via de regra, o Grafite utiliza muitas cores, imagens e faz bastante referência às questões sociais e políticas, colorindo diversos muros e até fachadas inteiras de prédios pela cidade.
Hoje, nas cidades grandes, é difícil caminhar pelas ruas e avenidas sem trombar com artes coloridas, divertidas, intrigantes e que incorporam os aspectos urbanos em seus traços.
No entanto, apesar do Grafite ter ganhado proporções e reconhecimento mundial, nem sempre foi assim. Ainda há lugares em que esse tipo de arte é proibida e até confundida com vandalismo.
Portanto, em primeiro lugar, é importante entender quais são as principais diferenças entre o Grafite e a Pichação.
Grafite não é Pichação
O Grafite ainda pode causar certo estranhamento para algumas pessoas, podendo até, inclusive, ser confundido com pichação.
É importante deixar claro que esses dois conceitos são bem diferentes, apesar de parecerem compartilhar dos mesmos princípios.
Como dito, o Grafite é um tipo de arte urbana que propõe intervenções em vias públicas, ou privadas, e sua principal característica são os traços coloridos.
Por sua vez, a pichação também acontece em vias públicas e também é intervencionista. A diferença é que a pichação é feita sem o consentimento da pessoa proprietária do muro ou parede, em casos de propriedade privada, ou do governo, no caso de vias públicas.
Por conta dessa diferença de autorização, a pichação é considerada um ato de vandalismo e crime ambiental, passível de punição por multa e até mesmo detenção.
Outra diferença é o caráter comercializável do Grafite. Hoje, pessoas e empresas contratam artistas para grafitarem seus muros e paredes, alimentando um mercado artístico e valorizando cada vez mais as pessoas que trabalham com isso.
Por outro lado, a pichação não é algo que é vendido como um serviço e, portanto, seu objetivo não é comercializar e expandir a arte como um trabalho. Nesse sentido, pichar tem diferentes objetivos, podendo ser um protesto, uma identificação de grupos ou o próprio vandalismo em si.
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História do Grafite
Se levarmos ao pé da letra, a atividade de desenhar e pintar paredes existe desde a época da pré-história passando até pelo Império Romano.
No entanto, o Grafite como existe hoje surgiu entre as décadas de 60 e 70, mas é difícil dizer com precisão em qual lugar ou em qual momento exato, justamente por ser um tipo de arte/ atividade marginalizada.
Nesse sentido, existem grupos de pessoas que acreditam que a arte surgiu na França, em 1968, e outros que acreditam que ela surgiu nos EUA no início da década de 70.
Grafite na França
Diz-se que foi no Movimento político Maio de 68, na França, que o Grafite como conhecemos surgiu.
Esse movimento foi marcado principalmente por greves e manifestações estudantis que pediam a renovação dos valores franceses, na época, classificados como conservadores.
Apesar desse movimento não ter tido conquistas concretas e objetivas, seu impacto na cultura foi bastante relevante, principalmente por conta dos slogans e frases grafitadas nas paredes das universidades adeptas às manifestações.
A partir disso, surgiu a ideia de que o Grafite nasceu durante esse período de revolta na França.
Inclusive, como curiosidade, o músico brasileiro Caetano Veloso compôs a música "É Proibido Proibir" inspirado em um Grafite do movimento de 68.
Grafite nos EUA
A manifestação do Grafite nos EUA aconteceu na década de 70 quando grupos de jovens começaram a desenhar suas marcas nas paredes da cidade de Nova Iorque.
Muito influenciado pelo Hip Hop, o Grafite americano tomou grandes proporções, tendo como principal artista Jean-Michel Basquiat, responsável por dar ao Grafite visibilidade mundial.
Basquiat grafitava símbolos de diversas culturas, inclusive contemplando obras famosas e ícones do consumo americano, sempre em um formato crítico à política e à sociedade. Sua temática envolvia temas como racismo, genocídio e opressão. Chegou a ser patrocinado por Andy Warhol, mas infelizmente morreu prematuramente, aos 28 anos de idade.
A primeira exposição exclusiva de Grafite aconteceu em 1975, no Artist's Space e em 1981 a arte foi consagrada na mostra New York/ New Wave, em um dos espaços artísticos mais importantes da cidade, o PS 1.
O Grafite no Brasil
No Brasil, o Grafite começou a ganhar força no início da década de 80 — em meio à ditadura militar — através do artista Alex Vallauri.
Alex era etíope radicado no Brasil e grafitava imagens simples em meio ao caos da cidade de São Paulo, mas que possuíam grande teor político e de protesto, diante do momento autoritário que o Brasil vivia.
Durante a época da ditadura, o Grafite foi duramente censurado, fazendo com que os grafiteiros brasileiros se inspirassem em artes dos anos 60 e no grafite americano.
Com o tempo, os traços e identidade da arte grafiteira brasileira foi tomando forma e hoje ela é reconhecida mundialmente, sendo referência e influência em diversos países para muitos artistas.
Apesar disso, o Grafite ainda sofre preconceito e discriminação, tanto por parte da população quanto pelo próprio governo.
Na cidade de São Paulo, muitos muros grafitados foram apagados em épocas diferentes, por prefeitos diferentes. Por mais que essa arte esteja crescendo e se fortalecendo cada vez mais, a luta contra os preconceitos e até contra certos níveis de censura, ainda existe.
Embora existam locais ditos específicos para a aplicação do Grafite, como o Beco do Batman, em São Paulo, a ideia da arte urbana é estar em todos os lugares, de forma acessível e impactando todos os públicos. Restringir, mesmo que geograficamente, os lugares em que é possível reproduzir uma arte, vai contra os princípios do próprio Grafite.
Desde que existam as autorizações necessárias, os artistas deveriam ser livres para grafitar em qualquer lugar.
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Artistas do Grafite
No começo, uma das características do Grafite era o anonimato, muito por conta das censuras e por ser encarado como um crime ou vandalismo.
No entanto, conforme essa arte foi se expandido e ganhando espaço, muitos artistas começaram a ter seus nomes como referência mundial.
Apesar disso, ainda existem artistas anônimos, famosos ou desconhecidos. Aqui segue uma pequena lista de artistas reconhecidos pelo Grafite.
Eduardo Kobra
Kobra é paulistano e a sua arte é reconhecida mundialmente, tendo Grafites em diversos países como Estados Unidos, Japão, Holanda, Itália, entre outros.
Além disso, Kobra está no livro dos recordes como detentor do maior mural do mundo, com uma arte de 5.742 m2.
Os Gêmeos
Os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo são os artistas conhecidos como Os Gêmeos.
Brasileiros, nascidos na cidade de São Paulo, Os Gêmeos, assim como Kobra, conquistaram o mundo com seu Grafite, tendo artes expostas no Chile, Inglaterra, Japão, Espanha, Alemanha, Lituânia e diversos outros.
Cranio
Fabio de Oliveira, o Cranio, é outro brasileiro reconhecido mundialmente pelos seus Grafites.
As artes de Cranio tem o indígena como personagem principal e possuem fortes críticas políticas e sociais.
Banksy
Banksy é o pseudônimo de um grafiteiro inglês misterioso. Mas apesar do seu anonimato, Bansky é um artista muito reconhecido pelas artes intervencionistas ao redor do mundo.
A sua obra mais famosa é a "Girl with Balloon" e suas artes podem ser encontradas em diversos países como Austrália, Espanha e até mesmo na Faixa de Gaza.
O impacto do Grafite na arte
O Grafite mudou muito ao longo da sua história, deixando de ser uma atividade criminalizada para uma arte reconhecida mundialmente.
Apesar do seu crescimento, ainda mantém algumas características, como os traços coloridos e a possibilidade de críticas sociais e políticas.
A grande questão do Grafite foi tornar a arte mais acessível e mais palpável para todos os públicos. As intervenções em vias públicas são vistas por qualquer pessoa, sem haver a necessidade de pagar para entrar em um museu ou galeria de arte.
Além disso, o Grafite é importante como meio de comunicação e expressão de ideias de uma comunidade e grupo de pessoas de outras esferas da sociedade.
O Grafite, além de ser uma arte visualmente atraente, carrega consigo uma essência única, de intervenção, de crítica, de acessibilidade, e isso é extremamente relevante para as artes como um todo.