É muito difícil que alguém nunca tenha ouvido falar sobre o Renascentismo, ou pelos seus diversos outros nomes: Renascença, Renascimento, etc.
Mas o que na verdade aconteceu durante esse período que o deixou tão famoso? Mais do que isso, como que essa época mudou e marcou as artes de uma forma tão lembrada até hoje?
Neste artigo, exploraremos um pouco sobre o que foi o movimento renascentista, suas características e como elas foram refletidas das expressões artísticas da época. Vamos lá?
O que foi o Renascentismo?
O Renascentismo foi um movimento cultural, artístico, econômico e político que aconteceu entre os séculos XIV e XVII. Esse período marcante na história teve início na Itália e em pouco tempo se espalhou para mais países da Europa.
O movimento renascentista propôs diversas mudanças e transformações na sociedade durante o período em que ficou vigente. O foco das discussões e questionamentos saíram do teocentrismo e migraram para o antropocentrismo.
Essa nova perspectiva possibilitou o surgimento de novos estilos artísticos e novas correntes filosóficas. Alguns estudiosos vão mais além e colocam no Renascentismo a responsabilidade da sobreposição da Idade Média pela humanidade.
Contexto histórico do Renascentismo
Assim como em diversos momentos da história nos quais houve uma mudança ou acontecimento relevante, não dá para responsabilizar apenas um único fator pelo surgimento do Renascentismo.
Existiram diversas questões que ajudaram e convergiram para o fortalecimento desse período.
Novos velhos ideais
Em primeiro lugar, vamos lembrar que o início do Renascentismo aconteceu na Itália, na região da Toscana. Naquela época, os italianos estavam buscando reviver os ideais da Roma Antiga e da antiguidade de forma geral. Havia bastante interesse em retomar a cultura antiga, através de escritos gregos.
Tais ideias faziam refletir sobre a condição humana e sobre todas as possibilidades de realizações e descobertas que o ser humano poderia concretizar. Esse pensamento se opunha ao pensamento primordial da Idade Média, em que Deus e a religião eram os protagonistas dos questionamentos e da inspiração dos seres humanos.
Por conta dessa vontade de retomada dos ideais da antiguidade é que esse período ficou conhecido como Renascentismo, Renascença ou até mesmo Renascimento.
No entanto, o que "renasceu" não foram exatamente as mesmas ideias culturais pagãs da antiguidade. Não houve rompimento efetivo com o Cristianismo, o que aconteceu foi a volta da apreciação das artes e da cultura urbana, assim como na Antiguidade Clássica.
Portanto, um dos primeiros fatores para o fortalecimento do movimento renascentista é a retomada dos ideias da antiguidade que colocavam o ser humano no protagonismo da própria vida.
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As grandes navegações e o alcance de novos mundos
Outro fator importante para o período foi o avanço tecnológico marítimo, possibilitando o desenvolvimento de grandes navegações e o alcance de novos lugares no mundo.
Não há dúvidas de que as grandes navegações ajudaram e impulsionaram o comércio na Europa, por meio da colonização de novas terras e da possibilidade de negócios com outros países e regiões do mundo.
Por conta disso, as transformações no mundo foram bem marcantes, abrindo espaço para o desenvolvimento do capitalismo, a ascensão da burguesia e o fortalecimento da política monetária européia.
Uma nova classe social: a burguesia
As novas rotas marítimas e a expansão comercial — também fortalecida pelas Cruzadas — possibilitaram a transição do modelo feudalista para o mercantilista/ capitalista.
As atividades comerciais se intensificaram e as pequenas cidades conhecidas como burgos começaram a se expandir também, abrigando não somente os comerciantes e artesãos, mas trabalhadores de maneira geral.
Com o fortalecimento e expansão dos burgos, uma classe social começou a surgir: a burguesia. Em um primeiro momento, essa expressão se referia a qualquer um que morasse dentro dos burgos, mas conforme o tempo começou a ser utilizada para denominar os comerciantes e pessoas ricas.
A burguesia foi bastante importante para o desenvolvimento cultural e artístico do renascentismo porque começaram a patrocinar escritores, pintores e diversos artistas, num formato chamado mecenato.
Mecenato no Renascentismo
A prática do mecenato não foi iniciada na renascença. Esse tipo de patrocínio veio da Antiguidade, mas sofreu grande declínio durante a Idade Média.
E como vimos que um dos pilares do Renascentismo é o resgate de alguns ideais antigos, não é de surpreender que a burguesia tivesse voltado com essa prática durante o período.
A questão é que o mecenato não era algo puramente e somente para ajudar artistas, mas também tinha um papel politicamente relevante. Os mecenas, ou seja, os ricos que patrocinavam artistas, tinham uma projeção política e econômica em paralelo ao incentivo à cultura e às artes.
Portanto, ser um mecenas era um meio da burguesia se afirmar socialmente e garantir mais poderes e relevância naquela sociedade que estava saindo da Idade Média e entrando na Idade Moderna.
A burguesia foi importante para a ascensão do Renascentismo porque incentivou e financiou figuras artísticas importantes que já estavam com um pensamento menos baseado no teocentrismo e mais no antropocentrismo.
A invenção da Imprensa
Outro fator essencial para o fortalecimento do Renascentismo foi a invenção da imprensa, pelo alemão Johann Gutemberg.
Gutemberg inventou a máquina de imprensa entre os anos de 1439 e 1440 e revolucionou os meios de informação da sociedade.
Com a máquina de imprensa a cópia de manuscritos se tornou muito mais fácil e barata, facilitando o acesso a livros por todas as camadas da sociedade.
Num primeiro momento, Gutemberg fez cópias da bíblia, mas a máquina de imprensa se tornou muito importante na divulgação dos ideias protestantes de Martinho Lutero e de filósofos, cientistas, pensadores e artistas renascentistas.
A utilização da imprensa possibilitou que todas essas novas ideias alcançassem rapidamente mais pessoas, fazendo com que o Renascentismo e seus ideais ficassem populares.
A Reforma Protestante
O último fator que vamos mencionar nesse texto e que ajudou a fortalecer o movimento renascentista na Europa foi a Reforma Protestante.
Em linhas gerais, a Reforma Protestante foi uma reforma religiosa que criticava diversas ações da igreja católica na época. Apesar de seus motivos iniciais serem de fato religiosos, havia também muitos conflitos políticos e econômicos que ajudaram a fortalecer a reforma.
O líder do movimento foi Martinho Lutero e a Reforma Protestante se espalhou rapidamente e foi absorvida por diversas outras pessoas, como João Calvino.
A Reforma foi importante para o Renascentismo pois claramente fragilizou a igreja católica e permitiu que novos pensamentos religiosos surgissem e se popularizassem, como o protestantismo e o anglicanismo.
Além disso, a reforma fortaleceu os princípios econômicos e políticos da burguesia, alimentando os ideais capitalistas.
Ou seja, a igreja católica enfraquecida, o maior foco do ser humano em si próprio e o crescimento do capitalismo e da burguesia foram essenciais para que o período Renascentista de fato se tornasse um movimento relevante na história, tanto pela perspectiva econômica e social, quanto pela artística e cultural.
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Características do Renascentismo
Assim como todo momento e movimento importante da história, o Renascentismo possuiu diversas características marcantes que puderam diferenciar esse período dos demais.
Nós já passamos brevemente por algumas dessas características no começo desse texto, como o antropocentrismo, por exemplo. Nessa seção, vamos nos aprofundar e conhecer outras particularidades do renascimento.
Antropocentrismo
O antropocentrismo foi uma das particularidades mais evidentes e marcantes do Renascentismo, surgindo como um contraponto e, de certa forma, uma oposição ao teocentrismo da Idade Média.
A linha de pensamento do antropocentrismo coloca o ser humano no centro do universo e como uma criação perfeita da natureza. Nesse sentido, o antropocentrismo pregava a importância do homem e ressaltava a sua liberdade de ação no mundo.
A independência do ser humano em relação à religião possibilitou a reflexão, criação e produção de diversos outros conhecimentos, dando origem a grandes descobertas no ramo da ciência.
No entanto, apesar de haver essa mudança de foco entre a religião e o ser humano, o antropocentrismo não deixou de lado a crença em Deus, que continuou sendo muito importante para a vida das pessoas.
A questão é que a religião deixou de ser a única fonte de verdade e de conhecimento, sendo estes buscados, no antropocentrismo, através da razão e não da crença ou da fé.
Humanismo e Individualismo
O Humanismo está bastante ligado ao antropocentrismo por representar a valorização ao ser humano. No período Renascentista, foi o retorno aos ideais clássicos que originou o pensamento humanista.
Assim como o antropocentrismo, o humanismo não renega a religião, mas dá ênfase à ciência e ao empirismo ao invés da espiritualidade e ao sobrenatural. Ser humanista é dar importância à capacidade humana.
Em linha com o pensamento humanista, temos também o individualismo, muito marcante no período Renascentista.
O Individualismo está relacionado ao auto reconhecimento, em termos de personalidade, talentos e ambições do indivíduo. Essa linha de pensamento coloca a individualidade acima do coletivo.
Racionalismo e Cientificismo
Tendo como base e características a valorização do ser humano e da busca pela verdade através das observações, outros valores importantes da renascença foram o Racionalismo e o Cientificismo.
O Racionalismo valoriza a razão como principal forma de adquirir conhecimento, prezando pela observação e pelo empirismo.
A partir disso, o Cientificismo valoriza a ciência e a coloca acima das outras diversas formas com as quais é possível compreender o mundo e o ser humano, como a filosofia e a religião, por exemplo.
No entanto, é importante ressaltar que o Cientificismo não prega uma doutrina da teoria, em que devemos aplicar a ciência em todos os níveis e situações da vida. A questão é utilizar a ciência como uma lente para desvendar os diferentes mistérios do mundo, ao mesmo tempo em que são feitas descobertas científicas e tecnológicas.
No Renascentismo, houve diversos cientistas cujas descobertas mudaram as perspectivas do mundo, como:
- Nicolau Copérnico;
- Galileu Galilei;
- Isaac Newton;
- Leonardo da Vinci;
- Francis Bacon;
- René Descartes.
Universalismo
O Universalismo valorizou o conhecimento das pessoas em diversas áreas, como filosofia, literatura, botânica, física, entre diversas outras.
O período renascentista foi marcado pela expansão do ensino através de escolas, faculdades e universidades.
Como consequência do Universalismo, muitas pessoas eram consideradas polímatas, ou seja, possuíam diversas qualificações profissionais.
Leonardo Da Vinci, por exemplo, era poeta, inventor, pintor, geólogo, escultor, mecânico, e atuante em diversas outras áreas ainda.
As expressões artísticas do Renascentismo
As características do período renascentista influenciaram diversas áreas culturais e artísticas, principalmente por conta da mudança de foco, antes religioso e então no ser humano.
Essa mudança de pensamento não foram expressas somente em pinturas ou esculturas, mas também estiveram bastante presentes na arquitetura e na literatura.
Arquitetura
Na arquitetura destacaram-se nomes como:
- Leon Battista Alberti;
- Filippo Brunelleschi;
- Donato Bramante;
- Andrea Palladio;
- Michelangelo Buonarotti.
Uma das principais mudanças na arquitetura foi a sua emancipação da pintura e da escultura, antes vistos como algo único. Além disso, priorizaram-se ordens matemáticas para a construção das estruturas, mas sempre prezando pela simplicidade.
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Pintura
A pintura talvez tenha sido a manifestação artística que mais se fortaleceu durante o Renascentismo e na qual surgiram grandes nomes, como:
- Leonardo da Vinci;
- Michelangelo;
- Rafael;
- Paolo Uccello;
- Lucas Signorelli;
- Ghirlandaio.
O pensamento antropocêntrico também foi algo bastante explorado nas pinturas, enaltecendo o ser humano e trazendo mais realismo para os trabalhos.
Além disso, foi bastante comum no período a utilização de técnicas diferentes, como a perspectiva, luz e sombra, e tintas à óleo.
Outra característica marcante foi o fortalecimento de estilos pessoais dos artistas. Apesar de viverem na mesma época e beberem da mesma fonte renascentista, os pintores começaram a desenvolver estilos próprios de trabalho, ressaltando o individualismo do período.
Literatura
A literatura foi outra expressão artística muito influenciada pelo Renascentismo, contemplando as principais ideias do período como o antropocentrismo e o humanismo.
A criação da imprensa beneficiou bastante a literatura da renascença porque possibilitou que autores pudessem alcançar mais pessoas de forma mais rápida. Isso fez também com que as obras fossem escritas em idiomas nativos e não somente em latim, francês ou provençal.
Dos autores mais marcantes da renascença podemos citar:
- Dante Alighieri;
- William Shakespeare;
- Miguel de Cervantes;
- Luís de Camões;
- Nicolau Maquiavel.
O impacto do Renascentismo nas artes e no Design
O impacto da renascença foi bastante significativo, não somente no que diz respeito à cultura e artes, mas no mundo como um todo.
O olhar mais científico abriu novas portas e perspectivas, além da mudança econômica e social que o período proporcionou.
Nesse contexto, as artes e o design foram bastante impactados pelo renascentismo de diversas formas. Desde a adoção de novas técnicas, como a perspectiva em pinturas, até o uso da lógica matemática na arquitetura.
Além disso, a visão antropocêntrica foi importante para começarmos a refletir sobre o homem, pela própria visão do homem. Colocar o ser humano no centro pode ser muito familiar para quem trabalha com UX Design.
Mas não faça falsas associações. Não dá para falar que a experiência do usuário foi uma consequência direta da renascença. No entanto, a importância de uma nova visão abriu muitos caminhos culturais e artísticos que influenciaram o design nos séculos seguintes, até chegarmos na atualidade e no UX e UI Design.