O UX Design em games é um tema extremamente relevante para o desenvolvimento de jogos e para que se leve em consideração todos os detalhes que compõem a experiência do jogador.
Os jogos fazem parte da vida de muitas pessoas, desde a sua infância até a fase adulta. Nesse sentido, os jogos evoluíram de tal maneira a ponto de não serem considerados apenas coisas de criança. Longe disso!
Mas o que exatamente faz com que um jogo prenda a atenção e faça com que as pessoas queiram chegar até o final?
Existem diversos recursos que podem melhorar a experiência do jogador, desde a facilidade nos controles até elementos visuais e sonoros.
Neste artigo, abordaremos um pouco mais sobre o que deve ser levado em consideração quando o assunto é UX Design no desenvolvimento de games. Confira!
Como UX Design ajuda no desenvolvimento de games?
A experiência do usuário não se limita apenas a produtos digitais como aplicativos, sites ou softwares. Na verdade, o UX Design pode — e deve — ser aplicado em diferentes tipos de produtos, sejam eles digitais ou “reais”.
Nesse sentido — e relembrando brevemente —, o conceito básico de UX é proporcionar, por meio de uma série de pesquisas e ferramentas, a melhor experiência para o usuário, de forma a atender as suas necessidades e auxiliar a cumprir um objetivo.
Dessa forma, fica mais fácil entender como o UX Design pode ajudar no desenvolvimento de jogos, uma vez que os games precisam proporcionar boa experiência e imersão do jogador em sua história.
No desenvolvimento de games, o UX Design deve entender quais os impactos do design devem ser relevantes, ou não, para o jogador e mobilizar a equipe de desenvolvedores — e demais membros — para construir essa experiência em conjunto.
Portanto, é responsabilidade do UX Designer pensar em perguntas como:
- Os jogadores vão entender as regras do jogo?
- Os comandos estão claros e intuitivos?
- Quais elementos visuais são importantes para garantir a imersão do jogador?
- Precisamos de mais recursos?
- O conflito do jogo está onde realmente deveria estar? Há equilíbrio no gameplay?
Portanto, ter em mente essas questões e trabalhar em suas respostas são atribuições essenciais para garantir o desenvolvimento do jogo de forma mais eficiente e com uma experiência imersiva para o jogador.
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As diferenças entre UX/UI Design e Game Design
Por conta das atribuições do UX Designer no mercado de games, há bastante confusão entre o papel do UX Design e o do game designer.
Antigamente, quando os jogos eram menos complexos, o papel do UX Designer estava nas mãos do designer de games, playtesters, analistas de mercado, etc. Ou seja, era uma função diluída entre diversas pessoas.
No entanto, conforme o mercado de games foi evoluindo e os jogos se tornaram mais complexos, apareceram novas atribuições e a necessidade de haver um profissional dedicado na experiência do usuário, ou jogador, no caso.
É bastante comum que os atuais UX Designers de games já tenham trabalhado na indústria antigamente e vieram de um background em desenvolvimento de jogos. Contudo, este não é um pré-requisito, apenas foi um movimento natural.
Então, qual a diferença entre as duas profissões?
O game designer cria as regras e mecânicas de jogos, pensa e equilibra o gameplay, cria os personagens, as armas, acessórios e poderes.
Em paralelo, o UX Designer vai criar a conexão entre esses recursos e o jogador. Ou seja, pensa e cria a jornada do usuário/jogador, levando em consideração todos os momentos de interação no jogo.
Além disso, o UX Designer desenvolve sinais e feedbacks para o jogador, fazendo com que ele receba informações do jogo de forma mais simples e imersiva. É responsabilidade do UX Design pensar na acessibilidade do jogo, também.
Com isso em mente, podemos pegar como exemplo qualquer jogo de tiro em primeira pessoa (FPS), como Overwatch, Valorant, Rainbow Six Siege, ou, para os mais saudosistas, o próprio Counter Strike.
Nesses jogos, o game designer irá definir:
- Os personagens;
- Seus principais poderes, armas e acessórios;
- Qual será o golpe especial e como ele acontecerá;
- Quanto de dano cada golpe irá causar no adversário;
- Qual o tempo de recuperação depois de um golpe, tiro, poder;
- Quanto tempo dura o golpe especial.
Por outro lado, o UX Designer irá estabelecer:
- Como o jogador sabe que o personagem está pronto para efetuar o golpe especial;
- Qual o feedback após os golpes, tiros e poderes, para informar o jogador de que ele foi bem sucedido ou não no ataque;
- Qual o feedback para o usuário entender que a munição acabou, sua barra de vida está crítica ou que o sua habilidade especial ainda não está disponível;
- Quais sons e elementos visuais são essenciais para a imersão do jogador.
Esses são alguns exemplos da diferença entre as responsabilidades do game designer e do UX Designer em games. Perceba que tudo o que envolve a interação, informação e imersão do jogador é responsabilidade do UX Design.
Aplicando UX Design em games
UX Design é uma área com uma alta carga de conhecimento teórico, alinhado com processos bem definidos.
Dessa forma, UX Design em games possui responsabilidades e atribuições em praticamente todo o processo de desenvolvimento de um jogo. Desde a sua concepção até os testes com os jogadores.
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Concepção e ideação
A etapa de concepção e ideação é o momento em que as ideias estão soltas e é preciso organizá-las, efetuando as devidas pesquisas e construindo ferramentas iniciais, como o User Persona.
Portanto, nesta primeira etapa, o UX Design é responsável por efetuar as pesquisas iniciais, entender quem são os jogadores, o que eles buscam e quais são as suas necessidades.
Design e pré-produção
Nesta etapa, o UX Design começa a produzir as jornadas do usuário/jogador, Wireframes e protótipos.
Além disso, é nesta etapa em que acontece o desenvolvimento visual, sonoro e a definição dos controles, sinais e feedbacks do jogo.
Produção
A parte final do desenvolvimento envolve diversos testes com os jogadores para verificar a jogabilidade, a narrativa do gameplay e a compreensão inicial do jogo.
Com os resultados dos testes em mãos, é hora de identificar o que deve ser ajustado e efetuar as devidas mudanças.
Esta pequena demonstração do fluxo de desenvolvimento de games, pela ótica de UX Design, é bastante ilustrativa. É claro que todo o processo possui diversas outras camadas mais profundas. No entanto, o corpo mais básico do processo é esse, e é o que vale para proporcionar a visão geral de um projeto.
Sinais e feedbacks
Como visto acima, o UX Design em games é responsável pelos diversos momentos de interação que o jogador tem com o jogo.
Nesse sentido, é importante a construção de feedbacks e sinais que comunicam o jogador sobre informações pertinentes ao jogo. Como, por exemplo, o status de vida do personagem.
Dessa forma, é importante que o UX Designer tenha em mente que o nível de informação fornecida ao jogador é crucial para sua experiência e jogabilidade.
Caso o jogador tenha pouca informação, ou esta informação esteja disponibilizada de uma maneira ruim, a experiência do jogador é afetada negativamente. Além disso, a falta de informações pode até deixar o jogo "injusto" e muito difícil de ser jogado.
Para evitar essa situação, é importante que o UX Design se preocupe em desenvolver sinais e feedbacks ao longo do jogo.
Sinais
Os sinais são informações dadas ao jogador para avisá-lo de que algo está para acontecer. Um bom exemplo é a mudança de trilha sonora.
Quando o personagem está a ponto de enfrentar um grande desafio ou até mesmo o chefe da fase, é possível criar essa identificação através da música.
Feedback
Os feedbacks são respostas dadas a alguma ação, seja feita pelo jogador ou pelo próprio jogo.
Nesse sentido, os feedbacks indicam se a ação resultou em acerto ou falha.
Os feedbacks podem aparecer de diversas formas: com efeitos visuais, efeitos sonoros ou, até mesmo, com respostas táteis — um controle que vibra, por exemplo.
Para exemplificar a importância do feedback, veja os dois videos abaixo.
No primeiro video, a luta do Batman com seus adversários se torna mais imersiva por conta dos diversos feedbacks que ela contém:
- Os movimentos de câmera;
- Efeitos de velocidade dos ataques;
- Identificação dos inimigos nocauteados.
Já no segundo vídeo, o feedback está concentrado no diálogo dos personagens. Nesse sentido, as animações do texto, as cores e os sons diferentes dão mais profundidade à cena.
Portanto, os feedbacks são responsáveis por melhorar a jogabilidade ao mesmo tempo que trazem mais imersão do jogador à história.
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Onboarding e usabilidade dos controles
Outras duas questões importantes e que devem ser preocupações do UX Design em games são o Onboarding e a Usabilidade do jogo.
Quando falamos de Onboarding, queremos dizer a primeira experiência de jogo. Ou seja, literalmente a primeira vez que o jogador entra em contato com o jogo. Esta primeira vez é importante para que o jogador crie familiaridade com as funções e jogabilidade do game.
É importante pensar em questões tais quais:
- Como é o começo do jogo e como ele começa a evoluir desde o primeiro minuto;
- Quais são os controles do jogo e como eles são ensinados ao jogador?
- O objetivo do jogo está claro? A comunicação com o jogador está bem feita?
- Como validar se o jogador aprendeu os controles e comandos? Há um objetivo teste?
Alinhado com essas questões de Onboarding, o UX Design é responsável também pela usabilidade dos controles e sua ergonomia.
O UX Designer deve ter em mente algumas perguntas como:
- Qual o melhor input para acionar determinado comando?
- Os jogadores tem facilidade de lembrar desses controles?
- Os controles são intuitivos ou é preciso de um manual mais explicativo?
- Os comandos mais complexos são impossíveis de serem executados durante um momento de mais ação no jogo?
O UX Design em games é responsável por pensar em todos esses aspectos com o objetivo de proporcionar a melhor experiência e imersão para o jogador, desde o seu primeiro contato com o jogo até no aprendizado dos controles.
Playtests
Os playtests equivalem aos testes com os usuários, em outros projetos de UX Design.
Igualmente importantes, os playtests são essenciais para identificar o que está bom e o que está ruim na experiência do jogador.
No entanto, é bastante difícil avaliar as emoções do jogador enquanto ele joga o game. Além disso, nem todo mundo consegue verbalizar de uma maneira clara as emoções que sentiu em determinado momento do jogo.
É importante que o facilitador do playtest saiba fazer as perguntas a fim de extrair o máximo de informação possível do jogador.
Ao invés de questionar se o jogo é divertido ou se o jogador compraria o game, pense em questões abertas, como:
- O meu objetivo no jogo era...
- Durante esta fase/sequência/enigma, eu me senti...
- Nesta fase, minha dificuldade foi...
- Com relação aos controles, senti dificuldade/facilidade em...
- Eu não entendi esta informação durante o jogo.
Essa abordagem, com perguntas abertas, traz duas perspectivas:
- Quais as dificuldades e facilidades do jogo;
- Quais o sentimento do jogador, se positivo ou negativo, se de animação ou de tédio.
Além disso, é importante efetuar playtests das diversas partes do jogo, e não somente de uma sequência específica. Dessa forma, é possível avaliar se durante toda a história e gameplay, o jogador continua imerso e interessado. Ao avaliar apenas um momento do jogo, podemos não conseguir avaliá-lo como um todo.
Dicas para melhorar o UX Design em games
1) Conheça bem o seu jogador / persona
Assim como em qualquer projeto, conhecer bem o seu usuário/jogador/persona é essencial também para UX Design em games.
As pessoas tem diferentes gostos e preferências, principalmente quando o assunto são jogos.
Dessa forma, estabeleça e trabalhe bastante no desenvolvimento da sua persona. Lembre-se de que persona não é público alvo, mas algo bem mais específico e detalhado.
Trabalhar com uma persona para o desenvolvimento de um game não quer dizer que ele não poderá ser jogado por pessoas fora desse padrão. Entender qual é a sua persona é saber introduzir elementos que farão com que esse padrão não abandone o jogo. Mas nada impede de que o game, de maneira geral, seja um sucesso entre diversos tipos de pessoas também.
Utilize análise de dados para poder moldar e lapidar a sua persona e entender qual é o perfil do jogador que se tornaria fiel ao jogo.
Para isso, faça playtests com as primeiras versões do jogo e disponibilize para que as pessoas possam dar seu feedback sobre ele. Com essas informações, você pode analisar quantas pessoas abandonaram o jogo, quantas pessoas terminaram o jogo e em qual momento elas se sentiram mais animadas ou mais entediadas.
Entender quem é seu jogador fará com que o desenvolvimento do jogo tenha mais objetivo e seja mais voltado para a experiência e necessidades deles.
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2) Pense no gameplay
Não adianta criar bons elementos visuais, sonoros, sinais e feedbacks imersivos para o jogador se o gameplay é fraco.
O gameplay é a estrutura que sustenta o jogo e é o que faz com que o jogador tenha interesse em continuar na história até o final.
Tenha em mente o ciclo básico do gameplay:
Os desafios, as missões, a resolução dos problemas precisam criar engajamento no jogador. Dessa forma, construir uma boa jogabilidade garante uma melhor experiência do jogo.
3) Seja consistente
Assim como em interfaces de produtos digitais, como aplicativos ou sites, no desenvolvimento de games também é importante manter a consistência dos elementos e interações.
Evite diferenças que possam causar confusão ao jogador. Por exemplo, se os botões do menu são azuis escuros e ao selecioná-los eles se tornam azuis claros, mantenha esse padrão ao longo do jogo. Não mude a forma como o jogador percebe as interações durante o game.
Além disso, mantenha o mesmo padrão de cores e identidade ao longo de todo o jogo.
Lembre-se de que o UX Design em games também trabalha com elementos usados em outras interfaces ou plataformas. Tenha essas regras e teorias em mente e mantenha a consistência do seu jogo.
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